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Ceará e Fortaleza têm dificuldade para lucrar com gestão própria do Castelão
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Ceará e Fortaleza têm dificuldade para lucrar com gestão própria do Castelão

Levantamento do O POVO mostra que apenas quatro partidas no estádio neste ano geraram superávit
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Seleção do futebol cearense será escolhida pelos leitores do O POVO  (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Seleção do futebol cearense será escolhida pelos leitores do O POVO

A empresa Luarenas deixou de gerir a Arena Castelão em dezembro de 2018. Desde então, o estádio passou para responsabilidade do Estado, que decidiu repassar aos clubes locais - entenda-se Ceará e Fortaleza - o direito de explorar o equipamento em dias de jogos.

A mudança, que em primeiro momento foi vista como solução, recebeu queixas desde cedo. Apesar de terem as chaves do Castelão, Vovô e Leão tinham de dividir lucros de bares e estacionamento com o Governo (10%) e a Federação Cearense de Futebol (FCF) (5%), afora as taxas que ambos já têm direito no borderô.

Reunião com o governador Camilo Santana, em 12 de março, definiu que o Estado ficaria com taxa única de 13% sobre rendas brutas e nada mais - não houve mudança quanto à FCF. Além disso, os camarotes também poderia ser explorados comercialmente e todo o espaço físico do equipamento ser utilizado para promoção de ações. Tudo isso deve constar em contrato assinado antes de cada partida.

O que foi colocado no papel satisfez os dirigentes inicialmente. Na prática, porém, os custos dessa nova modalidade de uso do estádio seguem praticamente os mesmos. Assim, as equipes ainda não conseguiram lucrar com os eventos.

Levantamento feito pelo O POVO constatou que de todos os jogos de Ceará e Fortaleza como mandantes, apenas quatro deram lucro. O Leão saiu no azul no Clássico-Rei pelo Estadual e na partida contra o CSA-AL, pela Copa do Nordeste. Já o Vovô teve superávit no Clássico-Rei do Nordestão e na partida contra o Corinthians pela Copa do Brasil".

"Só vai compensar mesmo no Brasileirão, nas finais e semifinais da Copa do Nordeste e nas finais do Campeonato Cearense", diz o vice-presidente do Ceará, Raimundo Pinheiro. Ele explica que os baixos públicos dos estádios comprometem as rendas, porque somente abrir o Castelão custa muito dinheiro.

Jogo de operação mínima, para 12 mil pessoas, segundo Pinheiro, custa no mínimo R$ 75 mil. Representante do Fortaleza na FCF, Tahim Fontenele endossa a informação. "Em um jogo para 40 mil pessoas, a bola nem rolou e eu já estou devendo 90 mil, no mínimo", garante.

O dirigente tricolor também aposta na Série A do Brasileiro como trunfo para reagir na arrecadação. "Por enquanto as rendas não estão nos ajudando, mas no Brasileiro a gente espera que seja positivo, mesmo que sobre apenas R$ 50 mil ou R$ 60 mil por jogo".

O apurado dos bares e restaurantes tem ajudado Ceará e Fortaleza igualar despesas e receitas a cada partida no Castelão. O montante arrecado no estacionamento, por exemplo, é dividido com a empresa que opera no local. O contrato para os dois times é o mesmo. Se o público levar acima de 2 mil carros ao jogo, fica 50% para o mandante e 50% para a operação. Se a quantidade de veículos for inferior a isto, a divisão muda para 65% e 45%, sendo a menor parte para quem gere o estádio. "Do jogo de ontem (quarta-feira, contra o Guarany-S) sobrou R$ 7 mil líquido e nós ainda tivemos que pagar quase R$ 1 mil para a Federação", exemplificou Tahim.

Já a venda de lanches e bebidas nos bares não tem rendido tanto aos clubes. Pinheiro ressalta que é até difícil responder sobre o assunto pela falta de parâmetro. "A gente não tem uma série histórica para basear, porque jogamos há vários anos com essa parte sendo da Luarenas. O que nós acreditamos é que vamos ter receita bruta anual em torno de R$ 300 mil (com bares)", pondera.

Hoje, o que tem sobrado líquido para Ceará e Fortaleza com a comercialização de alimentos fica entre R$ 7 mil e R$ 10 mil por jogo, valor irrisório para o padrão atual das equipes. Nos bares, só o espaço pertence ao mandante. A equipe de trabalho é terceirizada, bem como equipamentos.

Há outro ponto que causa preocupação no atual modelo de gestão do Castelão. O estádio está sendo entregue aos clubes com imperfeições, tais como falhas em catracas e sistema de som, espaços quebrados em vestiários e outros locais da praça esportiva. Segundo Tahim, o contrato de aluguel do estádio precisa ser feito contendo todos os problemas existentes para que o clube possa devolvê-lo nas mesmas condições. Pinheiro diz que "são coisas que podem ser resolvidas com manutenção".

O POVO procurou o Governo do Estado, por meio da Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv) para questionar sobre os problemas no Castelão relatados pelos clubes e obteve como resposta que "estão sendo adotados procedimentos para o lançamento de uma concorrência pública internacional para contratação de uma empresa que vai gerir o equipamento. Enquanto isso, a Sejuv trabalha para providenciar os ajustes necessários para que a Arena esteja nas devidas condições de uso".

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