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Dois lados do futebol
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Dois lados do futebol

| Esporte sob Bolsonaro | Futebol como ferramenta de inclusão pode sofrer cortes com extinção de ministério. Disputas profissionais, no entanto, têm cenário tranquilo
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O montante de capital privado investido no futebol profissional faz com que a modalidade seja praticamente imune à extinção do Ministério do Esporte, que será uma secretaria no Governo Bolsonaro. As exceções nesse cenário tranquilo são o futebol feminino e olímpico, que se mantém com fomento do Comitê Olímpico Brasileiro.

 

Quem usa o futebol como instrumento social, no entanto, tem muito em jogo. Projetos sociais que recebem financiamento da pasta federal do Esporte podem sofrer cortes, caso o orçamento da pasta seja reduzido. Muitos deles cumprem papel importante, em lugares mais carentes e com garotos que têm menos oportunidades.

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Em Fortaleza, a Associação Esportiva Estação Antônio Bezerra é um exemplo de como o investimento vale a pena. A agremiação recebe recursos do Ministério do Esporte e atende cerca de 220 crianças e jovens, entre 11 e 20 anos. Apesar de ter sede no bairro Antônio Bezerra, o projeto promove ações em outros cinco locais da Cidade. Além de promover a prática esportiva, que tira a garotada das ruas, o projeto incentiva o estudo, já que só joga quem vai regularmente à escola.

 

O Estação já teve mais de 300 inscritos, mas o número vem caindo nos últimos anos porque os recursos federais são destinados apenas para compra de materiais esportivos e pagamento dos profissionais. O transporte dos garotos não está incluso e muitos deles não conseguem arcar com os custos.

 

"O dinheiro do ministério tem que ser usado para aquilo que foi dedicado. Eu não posso tirar um centavo para outro fim", explica Odécio Marques, presidente do clube. Ele tira do próprio bolso para ajudar alguns meninos que participam do projeto, mas diz não conseguir fazer isso com todos. O aluguel dos gramados onde os treinos são feitos nos demais bairros também é pago pela direção do Estação, o que faz pesar ainda mais no bolso a manutenção do trabalho.

 

Se na atual condição já não está fácil, caso haja corte do apoio federal, manter o projeto social fica inviável. "O valor que temos vence em maio, então os colaboradores estão cientes que até lá tem valores a receber. Depois daí, tem que comprovar que fizemos um trabalho correto para receber o restante", explica Odécio.

 

Apesar das mudanças anunciadas, ele se mantém positivo e acredita que "o Governo vai atrapalhar somente quem trabalha errado". O presidente do Estação preferiu não revelar o valor que recebe do ministério, mas informou que até agora só recebeu 30% do valor empenhado.

 

Trabalhos como esse substituem a prática esportiva que deveria ser fomentada nas escolas. Há quem defenda que a gestão Bolsonaro poderá investir nisso, mas, para o jornalista Demétrio Vecchioli - autor do blog Olhar  Olímpico -, falar nesse assunto é demagogia.

 

"Para colocar isso em prática, é necessário uma série de coisas que o Brasil não tem. A primeira delas é quadra. Se não estou enganado, menos de 8% das escolas brasileiras tem quadra. Se não tem quadra, não joga futebol, vôlei, basquete, nenhum esporte de quadra. E se não tem quadra, muito menos pista de atletismo. Natação, então, nem em sonho. Não tem tênis. Não dá para fazer hipismo, não para fazer vela. Quando muito, faz tênis de mesa. 

 

Enquanto não tiver dinheiro para estrutura, não vai ter esporte na escola", explica.

 

Além das verbas do Ministério do Esporte, outra maneira de conseguir verbas semelhantes à do Estação seria via Congresso Nacional. Vecchioli destaca que os deputados têm pelo menos R$ 20 milhões em emendas e podem jogar muita coisa para o esporte. O problema, nesse caso, segundo o jornalista, está no interesse pessoal de cada deputado. "Cada um fica preocupado com seu reduto eleitoral, então, ao invés de pensar num programa, é mais importante construir uma quadra em algum lugar".

 

Série

 

Desde o domingo, O POVO publica reportagens sobre as perspectivas de redução de investimento nos esportes no Governo Bolsonaro

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