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Discreto, Galvão Bueno pode ter narrado sua última Copa do Mundo
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Discreto, Galvão Bueno pode ter narrado sua última Copa do Mundo

APAGADO. Narrador fez trabalho discreto na Copa do Mundo da Rússia e acabou perdendo espaço para o colega Luís Roberto
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Voz principal da seleção brasileira na televisão aberta desde a Copa do Mundo de 1990, Galvão Bueno foi mero coadjuvante na Rússia-2018. As atuações medianas do Brasil, a queda precoce nas quartas de final e a falta de brilho de Neymar contribuíram para isso. O ufanismo, característica mais marcante do veterano narrador, ficou contido.


Os bordões dessa vez ficaram na boca do colega de trabalho, Luís Roberto, considerado o grande nome das transmissões do Mundial na TV Globo — que retém a maior parte da audiência. Os melhores jogos também caíram no colo dele e do outro locutor do “trio de ferro” da emissora, Cléber Machado.


Galvão chamou muito mais atenção por críticas que não costuma fazer, erros que os internautas já aguardam para potencializar e por uma tentativa, provavelmente inconsciente, de virar um meme.


Em raro momento de indignação com a Canarinho, logo após a eliminação para a Bélgica, Galvão rompeu a política da boa vizinhança entre TV Globo e CBF, criticando os três últimos ex-presidentes — um preso, um banido e outro sob investigação — e colocou em xeque a capacidade do interino Coronel Nunes e do presidente eleito Rogério Caboclo. Um flash de lucidez na Copa do Mundo da Rússia.


O momento chama especial atenção porque o locutor foi, mais uma vez, prato cheio para a internet. Não porque falou demais, mas pelo que falou. De pronúncias contestáveis a criação de um Mundial, o de 1996, que não existiu, mas Galvão disse não tirar da cabeça, na transmissão da partida entre Brasil e México — o jogo, na verdade, foi a final da Copa Ouro, derrota brasileira por 2 a 0.


E quem disse que o narrador mais antagônico do Brasil tem medo da web? Longe disso. Nesta última semana de Copa ele até publicou em suas redes sociais um vídeo em que aparece junto dos técnicos franceses Laurent Blanc e Arsene Wenger numa festa, gritando: “O bicho pegou. Moscou enlouqueceu”. Aparentemente foi um recado de que vai torcer para a França na final.


Hoje ele narra mais uma decisão de Copa do Mundo. Ainda tem a chance de marcar o torneio como fez em 1994, com o esganiçado “é tetra” ou quem sabe o trágico “virou passeio” de 2014. Difícil. Sem a seleção brasileira, Galvão volta a ser somente um narrador e deixa de ser o cara que torce junto e pela gente.


Desta vez, porém, parece que Galvão Bueno realmente vai pendurar o microfone. Menos por vontade e mais por condições. A potência vocal já não é a mesma, o fôlego e memória privilegiada tampouco.


Em entrevista recente ao jornal O Estado de São Paulo, o próprio narrador admitiu que para o Qatar (sede da próxima Copa) deve ir, mas em outra função. Comentarista e âncora são as possíveis escolhas. Das Olimpíadas de Tóquio, em 2020, porém, ele não abre mão.


Exagerado, frasista e tagarela, Galvão mudou a narração esportiva na TV. Torcendo abertamente ao vivo, embalou as vibrações do tetra e do penta e tentou consolar nas decepções de 1998, 2006, 2010 e 2014. Concordando ou discordando, a maior parte da torcida acompanhou o que ele tinha a dizer.

 

ESTREIAS

Galvão começou na Globo em 1981, narrando Flamengo x J. Wilstermann pela Libertadores. Em Copas, ele estreou em 1982 e virou “titular” da seleção brasileira em 1990.

 

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