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A final foi ontem
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A final foi ontem

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Não me refiro a França x Bélgica, pretensa “final antecipada”. Por capricho do destino, na semana decisiva da mais grandiosa competição de futebol do mundo, o planeta acompanhou a feliz conclusão de um drama do esporte real, palpável e sem glamour, mas que chega aos lugares mais longínquos. O amor pelo futebol é o laço entre os 12 garotos e o treinador resgatados da caverna tailandesa. O time dos Javalis Selvagens os uniu.


Alguns sonham em se tornar profissionais e chegar à seleção. A Tailândia nunca passou perto de disputar uma Copa. Nunca teve um craque. A liga nacional é pouquíssimo expressiva — brasileiros como Diogo (ex-Portuguesa e Flamengo) ajudam no desenvolvimento do esporte profissional. Mesmo incipiente, o esporte apaixona.


A Copa é um evento grandioso. Porém, não é a realidade do esporte.

É espetacular, arrebata multidões, contribui para a difusão da prática. Todavia, o futebol da vida real é o dos meninos e meninas que, nos confins remotos, transformam a bola em brincadeira e constroem laços nos campos de terra batida.


Chamar o Brasil de "país do futebol" é meia verdade. Os estádios estão vazios, em sua maioria, resultado dos preços que excluem os pobres da mais popular das diversões e embranquecem as plateias que assistem aos ídolos negros.


Entretanto, em qualquer tarde de domingo, há meninos e adultos nos milhares de rachas em campos de várzeas em qualquer bairro de qualquer cidade. O Brasil é o país dos praticantes de futebol. O jogo é mais vivido que assistido. Porque democrático como talvez nenhum outro. Basta um pedaço de terra, uma bola gasta e um grupo de amigos.


A realidade do futebol é mais a várzea que a arena. O racha que a Copa. É mais os pequenos sonhadores que os craques planetários.

Ontem, o universo dos campinhos ofuscou o torneio da Fifa. Ninguém comoveu o mundo como os 12 meninos e o treinador que saíram a salvo da caverna. Ninguém foi tão ídolo quanto os heróis que realizaram o resgate, um deles dando a própria vida.


Os 13 jovens que viveram o pesadelo da caverna tailandesa são parte do sonho de futebol ao alcance de qualquer criança, em qualquer lugar. Brincar com a bola fez deles uma equipe. Ontem, a várzea teve sua final de Copa. Os Javalis Selvagens foram campeões do mundo do futebol real.

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