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Especialistas discutem se o futebol é, de fato, "pão e circo"
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Especialistas discutem se o futebol é, de fato, "pão e circo"

DEBATE. Criticado, o futebol tem força expressão cultural popular, dizem especialistas
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É batata! Entra Mundial, sai Mundial, e sempre tem alguém para bradar: “Ah! Copa é pão e circo”. A expressão, que tem raízes na política do Império Romano para conter a insatisfação popular, vem neste ano com roupagem de meme e é, na verdade, uma forma de chamar de alienado quem gosta de futebol, e mais ainda da Copa. O problema disso é que essa visão menospreza o papel cultural do futebol e de outras manifestações populares, como opinam especialistas.
 

“A crítica é fortemente marcada pelo preconceito de classe, visto que seu alvo são apenas as manifestações populares de lazer. Está implícito o entendimento de que os pobres não têm direito ao lazer legítimo, porque esse tempo deveria ser usado ou para trabalhar ou para ‘lutar por seus direitos’”, explica o doutor em sociologia e coordenador do Sociedade de Estudos em Esporte da Universidade Federal do Ceará (UFC), Artur Alves. “No fundo é uma crítica autoritária, e quem a faz acredita que é detentor de uma visão nítida e não ideológica, e que todos os outros são manipulados”, acrescenta o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo.
 

Ao longo da história, principalmente em governos ditatoriais, os esportes e a Copa do Mundo — devido ao nacionalismo gerado por eles —, foram usados como propaganda. Mas se deixar levar por esse argumento, é ignorar que quem gosta de Copa pode “torcer pela seleção sem deixar de pensar nos problemas sociais e em combatê-los”, pontua Alves.
 

Trazendo para o presente, em meio à crise política e econômica que o País vive, quem lança mão da premissa do “pão e circo” pode achar que caso o Brasil volte da Rússia hexacampeão mundial, a combalida popularidade do atual presidente da República Michel Temer (MDB) poderia se beneficiar. “Se assim fosse, a Dilma não tinha se reeleito quando o Brasil perdeu de 7 a 1”, pondera Prando.
 

Chamar de alienação uma paixão de milhares é esquecer do que o Brasil é feito. “A concepção da cultura brasileira passa pelo futebol, tanto quanto passa pelo samba, pelo Carnaval. Negar isso, é negar uma parte do que é ser brasileiro”, acredita o mestrando em Sociologia, pesquisador de torcidas organizadas Joaquim Sobreira Filho. “Reduzi-lo a uma mera ferramenta de alienação, além de incorreto, significa empobrecer a importância do futebol”, completa Alves.

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