Na época, Fernando Santos esteve em Fortaleza para enfrentar a Costa do Marfim precisando da vitória para uma inédita classificação helênica às oitavas. Na véspera da partida no Castelão, na coletiva, lhe foi perguntado como passaria a noite e se estava preocupado com o adversário. Seco e ríspido, ele disse que sim, mas que faria o de sempre: fumar dois cigarrinhos, jantar e dormir.
Na manhã seguinte, fui escalado para ficar de plantão no Marina Park, onde os gregos estavam hospedados. Eles circulavam bem tranquilos pelo saguão, tirando fotos com torcedores que lá estavam.
Em certa hora, com as coisas bem tranquilas, saio no canto para bater um papo com o segurança do hotel em busca de algum bastidor e fumar um cigarro. Passados uns minutos, percebo que alguém perto de mim fazia o mesmo. Após uma caminhada com o filho, Fernando Santos fumava seu cigarrinho como mencionado um dia antes. Ele percebe que o notei, vê meu crachá e dispara com sotaque lusitano carregado. “Estamos aqui segregados. E, por favor, não bata fotos”. Solto um sorriso e pergunto despretensiosamente se ele estava tranquilo para o jogo e o que ele estava achando da Copa. Simpático e resignado, ele faz uma análise breve do Mundial e diz, antes de se despedir, que estava confiante para a partida. A Grécia venceu por 2 a 1.
Hoje, em Sochi, ele deve estar cumprindo o mesmo ritual tabagístico, embora garanta em entrevistas que tem fumado menos. Desse breve encontro até agora, Fernando Santos, já por Portugal, conseguiu o maior título da carreira ao vencer a Eurocopa em 2016. Para não ficar por baixo, comemoro também uma conquista: estar há quatro meses sem fumar.