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Direto da Rússia: Onde estão os europeus?
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Direto da Rússia: Onde estão os europeus?

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O trem foi longo. O mais longo que já peguei na vida. Foram 17 horas de Samara a Volgogrado. O sacrifício não foi só por causa do futebol. Desde criança, sempre fui um apaixonado pela história da Segunda Guerra. E, por qualquer ângulo que se olhe, Stalingrado está no centro de tudo.

 

Mas de Stalingrado, hoje Volgogrado, falarei mais amanhã. Hoje, quero contar sobre Howard. Meu novo amigo inglês, que deve estar feliz da vida com o gol de Harry Kane no finalzinho contra a Tunísia.


Conheci Howard, 59 primaveras, quando estava dando uma passeada pelo trem. Um trem antigo, feio, nada a ver com o bonitão que eu tinha pego para ir a Saransk. A terceira classe é uma coisa de louco. São várias “camas” bem perto uma da outra, a galera comendo, dormindo, falando. E um calor danado, porque não tem ar condicionado.


Percebi um homem ali com aquela linda camisa vermelha da Inglaterra e puxei papo. Conversamos por mais de três horas. Tempo não era o problema no trem. Falamos sobre tudo. Tudo o que se pode imaginar. Sobre os Ladas do meu irmão, sobre como os russos não usam cinto de segurança, sobre o Brasil de 70, sobre a Inglaterra de 70 (para ele, a melhor de todos os tempos, apesar de não ter chegado longe), sobre o Chelsea, sobre Mourinho, sobre guerras.


Conversamos por tanto tempo que alguma russa começou a olhar torto ali na terceira classe. “Me deixem dormir!”. Mas ninguém falou nada.


O que me chamou mais a atenção foi o que Howard me falou sobre como os ingleses olham para a Rússia. “Propaganda”. A palavra que ele mais usou. O governo fez de tudo para que as pessoas não viessem para a Rússia. Pintaram o país como um lugar de bandidos e mafiosos. Não vá!


Mas Howard é casado com uma russa. Seus três filhos passaram o inverno em Saratov, cidade da família dela e onde ele embarcou no trem. Medo? “As pessoas estão perdendo uma chance incrível de conhecer a Rússia! Você está com medo aqui, Julio?”


Não. Mas claramente o terror psicológico pegou. A Europa Ocidental, salvo um ou outro mais apaixonado, não está aqui na Copa. Ingleses, alemães, dinamarqueses... ficaram em casa. Uma pena. Quem veio, está se divertindo. Ainda mais se for inglês.

 

Julio Gomes

esportes@opovo.com.br

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