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Direto da Rússia: Mosquitogrado
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Direto da Rússia: Mosquitogrado

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“Passe aqui esse óleo de baunilha que vai ficar tudo bem”. E lá vem Andriy com um frasquinho. Ele pincela o óleo pelo meu rosto. Testa, bochecha, pescoço, nuca. Prooooooonto. Agora fique tranquilo que eles não vêm mais.


Eles, no caso, têm nome e residência fixa. São os “moshkas”. Moram em Volgogrado, às margens do rio Volga. Sim, é incrível como algumas palavras se parecem. Mas olha. De moscas esses mosquitinhos irritantes não têm nada.


São milhares em volta de cada um de nós. Nos braços, rosto, tornozelo, no que quer que esteja exposto. Eu odeio mosquitos. Odeio qualquer coisa que voe e queira chupar meu sangue. “Não, Julio! Esses apenas comem tua pele”. Puxa, Andriy, que bacana!


Primeiro, ri da reclamação dos ingleses sobre os mosquitinhos. Depois, fiquei eu a travar uma batalha particular com aquele ataque aéreo constante. Volgogrado deveria se chamar Mosquitogrado! Andriy gargalha.


A cidade já teve outro nome, pelo qual é mais conhecida. Stalingrado. E o que aconteceu aqui não teve nada de engraçado. Foram dois milhões de mortos na batalha mais sangrenta e decisiva da Segunda Guerra Mundial.


Durante 200 dias, entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943, os alemães tentaram tomar o controle da cidade e do rio. Os soviéticos seguraram as pontas. A partir dali, começou o contra-ataque que acabaria com o nazismo pelo fronte oriental.


O estádio da Copa, construído em cima de ossos e munição, reproduz os fogos do “Dia da Vitória” (para os russos, o fim da guerra). Ele fica em frente à maravilhosa estátua de 85 metros, a maior da Europa, chamada “Pátria-Mãe Chama”. Uma mulher com uma espada em mãos conclama os seus a lutar.


Naquela colina, morreram milhões. Ao caminhar pelo memorial, ver a chama eterna, as paredes com tantos nomes... você começa a ouvir o som de explosões e morte. Ele vem de um dos murais enormes que mostram cenas da batalha. As fotos dos turistas se alternam com o silêncio.


É bonito. É histórico. É emocionante. É pesado. É quando vemos como somos pequenos. E quão longe chega a insanidade humana em sua sede de poder. Os filhos de Stalingrado seguraram sua cidade. Que deem a ela o nome que quiserem.

 

Júlio Gomes

esportes@opovo.com.br

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