Chegar em Buenos Aires, logo após o jogo decisivo das Eliminatórias, certamente seria uma experiência bastante interessante. Iria presenciar a euforia da classificação ou a ressaca de um fracasso. Na saída do aeroporto, pergunto ao taxista, com maior pinta de Robert de Niro, sobre a seleção argentina.
Um riso de canto de boca e um gesto com o polegar para baixo são a resposta.”Se perdessem, iriam do Equador direto para a Europa. Nem passariam por aqui”, comenta.
O taxista me pergunta sobre como foi o Brasil. Digo que a seleção eliminou os chilenos. Dessa vez o riso vem fácil.
O condutor explica que a rivalidade entre argentinos e chilenos é geral, não se restringindo apenas ao futebol. Imagino o quanto deve ter sido doído perder duas Copas Américas para os rivais.
“É uma questão de fronteira, eles são muito invasivos. Com o Brasil, nossa rivalidade é só futebol, Maradona e Pelé, essas coisas”, afirma. E acrescenta: “Estamos mais felizes com a eliminação do Chile que com a ida da Argentina à Copa”.
Ao fim da viagem, contudo, o coração amolece: “Digo que não vou ver mais esses cachorros, mas acabo voltando a vê-los”. Mais argentino impossível.
A manhã foi de overdose de Argentina. Desde cedo as TVs esperavam a chegada da seleção ao aeroporto. “Messi é argentino”, assim o principal jornal esportivo da Argentina noticiou a classificação de sua seleção à Copa. O que seria um fato óbvio, a nacionalidade do craque do time, assume caráter de revelação e de pertencimento. Você está em casa agora, Lio.
RICARDO MOURA, colunista do O POVO