Quando aceitou ser presidente do Fortaleza no fim de maio deste ano, o empresário Luís Eduardo Girão, 44, encarou o desafio jamais planejado como uma missão não racional. “Fui conduzido pela intuição e pelo sentimento inadiável do dever a cumprir ao clube”, falou ao O POVO com exclusividade uma semana antes de ser eleito no dia 10 de junho.
O Fortaleza, com campanhas péssimas e um futebol desanimador para uma folha de pagamento mensal de R$ 850 mil, colecionava eliminações no Campeonato Cearense, na Copa do Nordeste e na Copa do Brasil desta temporada.
O tamanho da pressão fez a diretoria anterior, comandada pelo então presidente Jorge Mota, renunciar. A crise financeira era grave e o time já estava na disputa de sua oitava Série C seguida, sofrendo diante dos constantes protestos de torcedores.
Discreto, ao contrário de tantos acostumados a usar o futebol como promoção pessoal, Girão logo colocou seu estilo raro em ação. Aparecia pouco em público e optava por não dar entrevistas, deixando que Marcelo Paz e Marcello Desidério, os vices e homens do futebol, fossem seus porta-vozes. Ao mesmo tempo, o agora mandatário trabalhava insistentemente nos bastidores para colocar, inclusive usando recursos próprios, os salários do elenco e de funcionários em dia.
Para isso, conseguiu reduzir a folha para R$ 700 mil, ainda a mais alta da Série C. O objetivo vital, que foi cumprido, era dar tranquilidade ao grupo, contando com a ajuda de outros empresários.
E deixava para aparecer em momentos cruciais, como na demissão do técnico Paulo Bonamigo e na contratação do seu substituto, Antônio Carlos Zago, quando foi pessoalmente até São Paulo para fechar o contrato com o treinador que levaria o time finalmente para a Série B; ou para mostrar apoio depois das ameaças de agressão feitas ao jogador Éverton, sempre com discurso de paz.
Sua permanência no comando do clube ainda é incerta. Mesmo após o acesso, o dirigente tem evitado confirmar se completa seu mandato até o fim de 2018. Ele tem dito que tudo está nas mãos de Deus, mas a decisão virá com reflexão, já que deixou a família morando nos Estados Unidos para assumir o Fortaleza como missão.
Naquela oportunidade deixou claro: seria difícil ficar em paz com a consciência sabendo que poderia ter ao menos tentado fazer ao algo pelo clube, seu melhor amigo de infância. Resta saber o que vai decidir agora, com ainda mais trabalho pela frente. (Fernando Graziani)