Um magrelo alto usando roupas coloridas e cabelo desgrenhado. Com a simplicidade do apelido Guga e a pinta de quem parecia ter mais habilidade com uma prancha de surfe do com que uma raquete, Gustavo Kuerten começava há exatos 20 anos a escrever seu nome como maior tenista brasileiro e um dos principais atletas de saibro da história. Para além disso, o primeiro título em Roland Garros do catarinense o transformou em fenômeno de carisma em um País carente de ídolos em esportes fora o futebol e que ainda lamentava a perda de Senna (1994).
Entrando naquele torneio de 1997 como o 66º melhor do mundo, Guga, então com 20 anos, apresentou em Paris a segurança de um veterano e o desempenho de um gênio do piso de saibro. Azarão, Kuerten venceu atletas do top-10 da época, como o russo Yevgeny Kafelnikov (3º) e o austríaco Thomas Muster (5º), os dois campeões anteriores deste Grand Slam. Na final, a consagração com um 3 a 0 sobre o espanhol Sergi Bruguera, que vencera o aberto francês em 1994 e 1995.
Encantamento que não se encerrou naquela edição do torneio, que venceria outras duas vezes (2000 e 2001), e lhe renderá homenagem feita pela organização de Roland Garros no domingo, 11, data da final deste ano.
O título de 1997 cativou um público que passou a torcer por ele e se familiarizar com expressões até então estranhas como quebra de saque e com um placar que ia do 0 ao 40 num piscar de olhos. “O Guga inspirou muita gente que foi pra quadra com a raquete. As pessoas paravam para ver jogo dele como se fosse da seleção brasileira”, relembra o professor de tênis Emerson Lucas.
Desse ponto para a massificação do esporte e o surgimento de novas estrelas deveria ser um pulo. No entanto, as duas décadas subsequentes foram na direção oposta. Se por um lado, o fenômeno Guga abriu o mundo do tênis a muitos jovens, por outro ninguém foi capaz ainda de se aproximar dos seus feitos. Thomaz Bellucci chegou a um 21º lugar do ranking. Mas nada de títulos do porte de um Slam.
“Depois do Guga, faltou um investimento na base. As pessoas veem o produto pronto e esquecem a importância da base. Sem isso, fica difícil pegar um garoto de 13 anos e querer que seja um Guga. Só se for um talento nato. Faltou o incentivo principalmente em escolas e quadras públicas”, complementa Emerson.
GUGA
CAMPANHA EM ROLAND GARROS 1997
Guga 3 x 0 Slava Dosedel (República Tcheca)Guga 3 x 1 Jonas Bjorkman (Suécia)
Guga 3 x 2 Thomas Muster (Áustria)
Guga 3 x 2 Yevgeny Kafelnikov (Rússia)
Guga 3 x 1 Filip Dewulf (Bélgica)Guga 3 x 0 Sergi Brugera (Espanha)
MAIORES CAMPEÕES DE ROLAND GARROS NA ERA ABERTA (APÓS 1968)
Rafael Nadal (Espanha) - 9 títulos (2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014)Björn Borg (Suécia) - 6 títulos (1974, 1975, 1978, 1979, 1980 e 1981)
Gustavo Kuerten (Brasil) - 3 títulos (1997, 2000 e 2001)Mats Wilander (Suécia) - 3 títulos (1982, 1985 e 1988)
Ivan Lendl (República Tcheca) - 3 títulos (1984, 1986 e 1987)
Esportes O POVO
DOCUMENTÁRIO CONTA TÍTULO DE GUGA EM 1997bit.ly/GugaRolandGarros