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O risco da extinção
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O risco da extinção

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Vencida a batalha da regulamentação do Parque, o Cocó requer todos os cuidados. O risco de extinção de algumas espécies é uma ameaça ao espaço tão fundamental a Fortaleza. Acuado no que restou de rio, floresta e manguezal, é invisível o que desapareceu ou está para ser dizimado fora da Cidade edificada. Aos olhos de quem se apressa no vai e vem da Capital, é quase uma cegueira ser indiferente à superexploração e destruição dos recursos naturais reunidos na cartografia do Cocó. De Pacatuba, onde nasce numa serra (passando por Maracanaú e Itaitinga), até o mar do Atlântico – quando o Ceará se conecta ao Mundo pela boca da praia do Caça e Pesca.


Não há pesquisa acadêmica sobre as extinções no Cocó, fui saber nas universidades Federal e Estadual do Ceará. Então resolvi observar. Em dez anos de registros fotográficos e rodapés, alguns animais deixaram de aparecer em pelo menos quatro pontos costumeiros nas trilhas da Sebastião de Abreu.


Guaiamuns (Cardisoma guanhumi), aratus (Aratus pisonni) e chama-marés (Uca sp) eram frequentes, de 2007 a 2012, na extensão das trilhas: do Rio, Principal (ruínas das salinas dos Diogo e lagoas de passagem) e próximo aos dois campos de futebol (antigas salinas). Seriam estes caranguejos espécies migrantes? Luciana Nascimento Mendes, pesquisadora e doutora em Ciências Marinhas Tropicais pela Universidade Federal do Ceará (UFC/Labomar) afirma que não (Leia entrevista na página 3). A não ser em pequenas distâncias e na época da “andada” para o acasalamento e reprodução.


O guaiamum, desde 2014, entrou na lista das espécies vulneráveis à extinção de acordo com a Portaria 445/14 do Ministério do Meio Ambiente (MMA). E, em março deste ano, o Governo Federal determinou, segundo Portaria 161/2017, que sua exploração será permitida até 30 de abril de 2018 nos nove estados do Nordeste.


O chefe de fiscalização local do Ibama no Ceará, Miller Holanda Câmara, afirma que a vigilância mais incisiva em torno da captura e comercialização da espécie se deu com a edição da Portaria 445. Agora, “só poderemos agir nesse sentido a partir de abril do ano que vem”.


Nem o Ibama/Ceará nem as universidades nem a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) têm qualquer estudo sobre a presença e a captura do guaiamum ou “caranguejo azul” nas trilhas da Sebastião de Abreu ou em outros pontos do Parque do Cocó.


Quem dá notícias da redução deles na Sebastião de Abreu são pescadores que armam “covos” – espécies de gaiolas hoje feitas com garrafas pets – para capturá-los. Uma pesca de subsistência no mangue feita, geralmente, à noite. Turno de maior atividade dos guaiamuns.


De 2012 para cá, ainda se vê um ou outro caranguejo azul na Trilha Principal e, raro, na Trilha do Rio. Tenho alguns registros durante a quadra chuvosa/inundações ou quando o mangue seca que a terra racha. Nos terrenos degradados dos campos de futebol, ponto onde mais se descarta lixo nas trilhas da Sebastião de Abreu durante os fins de semana, já não existem tocas.


Na Trilha do Rio, onde havia maior atividade dos caranguejos citados aqui, não se fotografa mais “procissões” de aratus escalando as árvores. Em menor quantidade, podem ser vistos embaixo da ponte. Os chama-marés, e seu ritual de exibir a pata grande de corpo miúdo, nem isso. Sumiram.


O risco é se repetir a mesma sina do “rentável” caranguejo-uçá, desaparecido da lama da Trilha do Rio. Em dez anos, e indo em diferentes horários e dias nos meses, fiz um registro de um indivíduo próximo à ponte. O guaiamum segue a mesma escrita da insustentabilidade de coexistir numa floresta que se tornou urbana.


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