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Hora de tirar o atraso
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Hora de tirar o atraso

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Barreiras que já esburacavam o solo e desenham o fundo do canal estão destruídas. São grandes erosões na extensão da parede. A chuva desfez tudo. Criou poças de água suja, de pouca serventia. A lama também escorreu e formou entulhos. As marcações anteriores, das medições executadas pela construtora Mendes Júnior, precisarão ser refeitas. Muito retrabalho pela frente.


A antiga empreiteira largou o serviço após ser denunciada judicialmente, dentro das investigações da Operação Lava Jato. Foi considerada inidônea. E a obra abandonada - junho/2016 a julho/2017. O matagal enraiza e também ajuda a desmanchar. Diante do que se vê ao redor, será preciso correr para tirar tanto atraso e cumprir o cronograma. Ainda é assim que está um trecho significativo do caminho da transposição entre Salgueiro (PE) e Penaforte (CE), já chegando a Jati (CE).

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No momento, é o cenário mais atrasado do projeto. Está dentro da chamada Meta 1N, a primeira etapa de obras do Eixo Norte - tem 140 km e sai de Cabrobó (PE), passa por Terranova (PE), Salgueiro, Verdejante (PE), até Penaforte. Segundo o Ministério da Integração Nacional, a execução deste trecho chegou a 92,47%. É o ponto em que o rio São Francisco alcançará o Ceará. Ou por onde deveria estar escoando. Pelo menos desde julho último os serviços começaram a ser retomados.


A desolação já dá lugar a uma rotina renovada. Nova montagem de canteiros, convocação de mão de obra, ajuntamento de material, máquinas voltando a circular nas estradas de terra batida. Apontar o que precisarão reconstruir. Poeiral outra vez subindo ao lado dos roçados. O barulho de caçambas está de volta.


O consórcio Emsa-Siton foi o vencedor da licitação aberta pelo Governo Federal para concluir as pendências deixadas pela Mendes Júnior. “O valor da proposta renegociada pelo Ministério da Integração Nacional com o consórcio para a execução das obras foi de R$ 516.873.208,24”, informou o site da pasta, no início de abril, quando confirmaram o desfecho da concorrência.

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Venceu o Emsa-Siton, apesar de outros dois consórcios terem apresentado preços até R$ 76 milhões menores na disputa. Foram desclassificados por critérios técnicos. Houve questionamento jurídico das empresas, por isso os serviços da transposição só puderam ser reiniciados no mês passado.


E outros imbróglios vão surgindo. No último dia 21 de agosto, um grupo de trabalhadores desempregados de Penaforte realizou protestos em um trecho da obra, na comunidade Areias. Eles reclamaram que a mão de obra local não está sendo aproveitada nas recontratações da transposição.


“Muita gente de fora está vindo para nossa cidade e conseguindo emprego facilmente. Penaforte tem muita gente qualificada para essas vagas”, afirma Carlinhos Miné, 44, que é motorista e um dos representantes do movimento. Os manifestantes chegaram a impedir o tráfego de tratores e caminhões.


A grita foi apaziguada quando um gerente da Emsa recebeu o grupo. Ficou acertado que o consórcio iniciará novas admissões a partir de setembro. Priorizando os que morem por perto. Uma legislação municipal, aprovada em junho na Câmara de Vereadores e que aguarda sanção do prefeito Francisco Agabio, reivindica que pelo menos 70% dos contratados para as obras sejam locais.


Carlinhos Miné, que deu a sugestão do projeto de lei, conta que trabalhou à época da Mendes Júnior e que já naquele tempo os de fora tiveram preferência. “Nossa cidade é pequena, mas se vê a diferença com a retomada das obras. É bom para a economia local, tem que ser bom para a população”, diz. O Ministério informa que ainda há cerca de dois mil trabalhadores atuando nos dois Eixos.


Finalizada a Meta 1N, será por esse mesmo trecho que começará a descer o socorro hídrico para Fortaleza. O rio fará uma curva em Jati para encher o Cinturão das Águas do Ceará e rumar para a Capital. Nas declarações do secretário estadual dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, a Região Metropolitana de Fortaleza poderá colapsar até o primeiro semestre de 2018, se isso não acontecer. Uma recarga da chuva pode estender a reserva um pouco mais. O projeto da transposição está se prometendo, no apalavrado do Governo Federal, até o início de 2018. O tempo agora é de tirar o atraso. Ou São Francisco continuará na demora de chegar.

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Em busca de trabalho

Cícero Cornélio (à esquerda na foto), 55, carpinteiro, está desempregado há um ano. De 2008 a 2016, trabalhou entre canteiros da ferrovia Transnordestina e da transposição do São Francisco. É de Jati, mas circulou em frentes de serviço de Penaforte, Missão Velha, distrito de Ingazeiras em Aurora - todas do Ceará - enquanto esteve contratado. Saiu quando a Mendes Júnior abandonou o projeto. Bate agora no portão do novo consórcio responsável, tentando qualquer sorte. Mas igual a ele estavam Clisvaldo de Souza, topógrafo, 63; José Oliveira, 35, encarregado; João Batista da Silva, 34, serviços gerais...Havia uns 40 no dia em que O POVO esteve no local. Salário médio de R$ 1.300 a R$ 1.500. Oito horas por dia de trabalho. Ali, entre eles, nenhuma garantia de que o emprego daria certo.

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