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Um ofício de futuro
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Um ofício de futuro

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POR ROBERTO GAZZI
 
DIRETOR-EXECUTIVO DO JORNAL CORREIO*, DA BAHIA
 
 
Como estará o jornalismo daqui a 10 anos, a perspectiva temporal proposta pelo jornal O POVO na comemoração de seus 90 anos? As efemérides me fizeram voltar no tempo. Há exatos 45 anos, metade da existência deste jornal: me lembrei das broncas que eu, adolescente mirrado, levava de minha mãe aos domingos.
 
 
Como desde os 14 anos eu já trabalhava, minha única obrigação caseira era, nesses dias, ir à padaria comprar pão e leite. Mas, na volta, desviava do caminho de casa para passar numa banca e comprar um jornal. A bronca era pela demora e pela carga que trazia: um catatau pesadíssimo, a edição dominical do Estadão, que naquela época beirava as 300 páginas. Quase a metade delas com ofertas de emprego!
 
 
Pois agora os jornais, de onde as ofertas de emprego sumiram, trazem notícias de que, nos próximos 10 anos, veremos os robôs iniciarem o processo de extinção de centenas de profissões. Mas acredito que entre elas não estará a de jornalista, embora o avanço da tecnologia vá permitir a substituição de trabalhos realizados hoje por alguns profissionais em milhares de redações pelo mundo afora. Checagem de fechamento de cotações, bolsas, resultados de jogos, tudo o que possa ser mensurável será feito com muito mais rapidez e competência por um robô.
 
 
Mas os robôs, os vilões da extinção de milhões de empregos futuros, estão neste momento trabalhando a favor do ofício jornalístico. Pois eles estão no centro na disseminação de notícias mentirosas nas redes sociais, o fenômeno das chamadas fake news, contra o qual as sociedades civilizadas estão começando a lutar. A explosão de notícias falsas ressaltou a importância de, neste novo mundo onde as fontes de informação se multiplicam numa velocidade estonteante, se confiar em fontes de credibilidade. E grande parte da mídia estabelecida é fonte confiável de informação. No topo da pirâmide da credibilidade estão os jornais, segundo recentes pesquisas realizadas no Brasil e no mundo.
 
 
Este segue sendo o principal ativo dos jornais, que lutam para achar um modelo de negócio que a revolução digital veio estraçalhando nos últimos anos. Acredito que seja a credibilidade, junto com a produção de conteúdo exclusivo local e o senso de inovação, o tripé que vai sustentar a sobrevivência das boas redações. E credibilidade e espírito inovador também serão atributos diferenciadores dos profissionais.
 
 
Nunca os jornalistas tiveram acesso a tantos recursos para poder contar uma boa história, a essência da profissão. Já não dependemos apenas de um bom texto e eventualmente de uma boa imagem, como há 45 anos. Tanto um quanto o outro continuam sendo fundamentais, mas agora se pode recorrer a vídeos, a sons, a infografias e outras técnicas narrativas para fazer a história chegar a públicos diversos. Aliás, o bom jornalismo nunca foi tão consumido como atualmente, graças à revolução digital. Infelizmente, o mesmo se deu com as notícias falsas. Neste embate, a sociedade deve torcer (e agir) para que as informações de qualidade prevaleçam. Para o seu próprio bem.
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