PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS, VICE-PRESIDENTE DO
FÓRUM MUNDIAL DE EDITORES E VICE-PRESIDENTE EDITORIAL DO GRUPO RBS
Quando alguém sente uma série de desconfortos no corpo, a primeira atitude costuma ser dedilhar os sintomas em busca de uma luz do doutor Google. O consultor digital vai ligá-lo a incontáveis sites com respostas assustadoras.
Cistos podem ser tumores, dores de cabeça podem ser prenúncio de AVC, aquele incômodo no braço pode ter relação com o coração. Mas ninguém razoavelmente sensato vai se contentar com tamanho sortimento de hipóteses. Se algo parece sério, o doutor virtual deve dar lugar a um médico em carne e osso. E se o problema for realmente sério, a opção óbvia é se recorrer a um especialista.
O mesmo processo ocorre no mundo da informação. O universo digital foi tomado de assalto por infinitos sites, blogs, tuítes, posts, textões e textinhos em busca de alguma atenção, e o dinheiro ou poder que vem com ela. Como não há regulamentação sobre a verdade, uma grossa quantidade do que circula pelo vácuo digital é apenas invencionice, exagero, distorção.
É por isso que, quando se quer conteúdo de qualidade, um médico da informação se tornou imprescindível. O patrimônio de uma empresa de comunicação se alicerça sobre informação precisa, correta e plural. Para as demais empresas, engolfadas pela guerra de reputação desencadeada nas redes, o ativo mais valioso passou a ser a chamada segurança de marca. Se o conteúdo associado à marca for apropriado para consumo, a empresa está em campo seguro. Mas se for adulterado ou fraudulento, como tanto que se vê por aí, a marca será igualmente conspurcada pela inconfiança.
A olho nu, é difícil a um cidadão comum distinguir se é verdade ou não aquela informação recebida de um parente via WhatsApp. Num efeito perverso de difusão de inverdades, quem compartilha passa a ser a fonte, e esse alguém dificilmente quer induzir outros a erro. O antídoto para essa silenciosa contaminação informativa está na real fonte noticiosa. Jornalistas e veículos profissionais de informação nem sempre estão certos, mas o fato é que eles vivem de informação correta e plural – assim como o médico encontra seu ganha-pão no diagnóstico preciso, e não no erro.
Quando um jornal completa 90 anos, como O POVO, ele faz parte de uma exclusiva galeria das fontes confiáveis apenas pelo vislumbre do logotipo. Jornais calejados por décadas de aprimoramento e que se renovam de forma constante são, paradoxalmente, as clínicas informativas mais equipadas para extirpar a doença das notícias falsas e sectarismos
que contagia o planeta.
Jornais com tal trajetória tiveram a credibilidade erguida sobre a busca incansável do acerto e da preocupação em refletir as vozes e os anseios da comunidade. Agora, como parte de seu acordo de confiança com o público, estão na linha de frente para combater a epidemia desinformativa em mais uma das tantas batalhas que viveram e que ainda viverão.
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