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O futuro dos combustíveis
Economia

O futuro dos combustíveis

| Pesquisas | Carros elétricos e híbridos despontam como possibilidades de substituição aos veículos movidos a combustíveis tradicionais, mas há divergências sobre a viabilidade dos projetos
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A substituição dos tradicionais combustíveis fósseis ainda parece distante da realidade das ações hoje implementadas. Enquanto países desenvolvidos avançam em pesquisas de produtos limpos, a Petrobras anunciou, em 2016, o fechamento de usinas e o encerramento das atividades de produção de biocombustíveis, matriz que poderia se fortalecer como alternativa. Atualmente, a estatal atua na produção de etanol por meio de parcerias com dez usinas em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e em Moçambique, na África.

Pedro Felipe Silvino, professor do curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a infraestrutura atual, voltada ao uso de combustíveis convencionais, bem como todos os investimentos nas refinarias e na logística de transporte também são fatores que impedem uma adesão em grande escala aos biocombustíveis no País. "O mercado é tão grande que você não teria condições de competir com a gasolina e o diesel", afirma.

O pesquisador acredita que o futuro se projeta em carros híbridos (motor a combustão e elétrico) e elétricos (bateria recarregável). "O híbrido tem motor a combustão, que funciona que nem um carro normal, mas a potência não é transmitida diretamente para as rodas. Você transforma essa mecânica em energia elétrica para mover o carro", detalha.

A respeito dos carros elétricos, Silvino destaca que, apesar do alto investimento de aquisição, esses modelos apresentam uma significativa economia de manutenção, o que pode auxiliar a diminuir a demanda por combustíveis convencionais. O pesquisador elucida que o cenário ideal seria o de uma mudança estratégica na política de impostos para veículos com essas características, com redução de IPI e IPVA, a fim de estimular o uso.

Cláudio Ribeiro Lucinda, professor do departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), ressalta o protagonismo dos carros elétricos no cenário que se descortina, mas avalia que a transição não acontecerá de repente, mas no longo prazo. Até lá, ganhariam destaque os carros híbridos.

"Em um curtíssimo prazo, o etanol é a solução, o carro flex é a opção para agora. Mas, no médio prazo, vejo que teria espaço para os carros com combustão híbrida para só então mais para frente haver espaço para o carro elétrico puro", avalia.

Helvio Rebeschini, diretor de Planejamento Estratégico e Mercado da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural), levanta uma questão para a penetração dos carros elétricos no cotidiano dos brasileiros: a quantidade de energia elétrica que o País produz. De acordo com ele, não temos o suficiente para movimentar as frotas do Brasil, dados os períodos de seca, as poucas chuvas e os riscos de apagão que pairam sobre o setor energético.

"Não temos energia sobrando, somos um país pobre onde a quantidade de energia que possuímos serve para manter as famílias". O diretor da Plural acredita que a ideia pode penetrar em centros isolados de maior poder aquisitivo, como São Paulo. Segundo Helvio, esse consumo vai estar presente em pequenos nichos e não merece incentivos do governo. "O País tem outras demandas e necessidades, como saúde e educação".

Os coordenadores do GPBio, professores Luciana Gonçalves, Valderez Rocha e André Casimiro, esperam tornar a agroindústria do caju ainda mais forte no Nordeste com as pesquisas do grupo
Os coordenadores do GPBio, professores Luciana Gonçalves, Valderez Rocha e André Casimiro, esperam tornar a agroindústria do caju ainda mais forte no Nordeste com as pesquisas do grupo

Caju como alternativa

O Grupo de Pesquisas e Desenvolvimento de Processos Biotecnológicos (GPBio), vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), identificou o caju como merecedor de uma atenção especial. Dados apontam para um desperdício médio de pedúnculos gerados como coproduto da cadeia que podem chegar a 1,5 milhão de toneladas. Como solução, os pesquisadores passaram a pesquisar a produção de etanol, de primeira e segunda geração, a partir do caju. Os esforços do grupo têm sido direcionados à concepção de uma plataforma de biorrefino com base no caju, uma "biorrefinaria".

Vânya Pasa, coordenadora do Lec
Vânya Pasa, coordenadora do Lec

Certificação bioquerosene

O Laboratório de Ensaios de Combustíveis (Lec) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se prepara para se tornar o primeiro do País a realizar a certificação de biocombustíveis para aviação, previsto para 2020. A coordenadora do Lec e professora, Vânya Pasa, conta que o laboratório recebeu recursos da Boeing e do Governo de Minas Gerais. Ela lembra que biocombustíveis foram utilizados para alimentar os voos que cruzaram o céu brasileiro durante a Copa do Mundo de 2014, sendo boa parte certificada lá fora. Vânya diz que a presença do laboratório vai impulsionar a substituição do querosene fóssil utilizado no Brasil.

Entenda a série

Este é o último dia da série caminho dos combustíveis. Foram abordadas perspectivas de presente e futuro, além do histórico, dos produtos no País e no Ceará.

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