Os preços praticados pelas clínicas populares não são exatamente baratos. Principalmente, se considerar que, há dez anos, uma consulta dessas saia por cerca de R$ 30, R$ 50. Hoje, custam, em Fortaleza, entre R$ 70 e R$ 120. Mas está em uma faixa intermediária bem mais em conta do que a média praticada em clínicas particulares, onde uma consulta com um cardiologista, por exemplo, sai por R$ 300, R$ 400.
Mas como eles conseguem fazer isso, considerando que a Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH), a chamada inflação médica, que é o principal indicador utilizado pelo mercado de saúde suplementar como referência para estabelecimento de preços, cresceu quase três vezes mais do que a inflação oficial do País em 2018?
"Um dos segredos desta estrutura de negócios é o volume, conseguir fazer um atendimento mais barato e eficiente do ponto de vista econômico. Tem que manter a agenda daquele médico cheia. Diferentemente dos grandes hospitais, em geral, os procedimentos têm um tempo de atendimento pré-determinado, o que não quer dizer de menor qualidade", afirma o sócio da KPMG em Fortaleza, Eliardo Vieira.
Ele acrescenta que o fato dessas clínicas trabalharem com pagamento em dinheiro, à vista — mais recentemente que a modalidade de crédito começou a ser aceita —, o risco de crédito e de falta de liquidez é bem menor. "Além disso, os planos de saúde costumam pagar com 90 dias, há possibilidade de glosa do pagamento (ajuste de uma cobrança apresentada por um serviço prestado. E que não tem nessas clínicas".
O valor pago aos profissionais de saúde pelo serviço prestado também figura entre o que é desembolsado pelos planos de saúde e clínicas particulares.
Mas, embora o preço seja o carro-chefe desse filão, a qualidade do atendimento e a rapidez no agendamento também pesam muito para decisão do usuário, observa a gestora da Clínica Santa Clara, Glauciane Souza. "A demanda cresceu e a exigência também. A gente tem que equilibrar isso, eles querem tudo direitinho, suporte, estrutura", aponta.
Ela lembra que a clínica foi uma das primeiras neste formato a funcionar na rua Dr. João Moreira em 2005, no Centro da Capital, e surgiu de uma lacuna que desde aquela época era latente: que é a dificuldade de acesso ao serviço público de saúde. "A Santa Clara começou com 30 médicos, que já atendiam a preço popular dentro da Santa Casa. Eles tinham uma demanda muito boa, mas, quando o hospital fechou o sistema, eles ficaram sem espaço para atender as pessoas. Por isso surgiu a ideia de criar a clínica. De lá para cá, muitas vieram depois, mas a demanda também aumentou".
Atualmente com quatro unidades, todas no Centro, o foco é seguir ampliando o leque de serviços. "Hoje é mais fácil dizer as especialidades que a gente não tem, temos todas menos psiquiatria e infectologia. Também oferecemos vários tipos de exames. E ainda neste ano vamos passar a ofertar Raio-X. O nosso foco é consolidar ainda mais nossa atuação".
O economista Alessandro Gomes alerta que, com tanta oferta, o usuário precisa estar atento. "É importante checar se a clínica e médico estão registrados, pesquisar reclamações em relação a empresa. Hoje, na internet, há várias formas e fazer essa busca", destaca.