Logo O POVO+
Como os setores cearenses enxergam as novas relações comerciais do País
Economia

Como os setores cearenses enxergam as novas relações comerciais do País

| Avaliações | Os impactos vão desde entrada em novos mercados a receios com a importação de produtos, gerando concorrência com mercado local
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Energias Renováveis

Hoje o Ceará exporta pás e aerogeradores para os EUA, porém as importações maiores vêm da China. Para o presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis, Jurandir Picanço, à primeira vista, a entrada do Brasil na OCDE não deve trazer muitas mudanças porque o setor já dispõe de grande abertura de mercado, com a participação de muitos investidores estrangeiros. Já o presidente da Gram-Eollic e consultor industrial, Fernando Ximenes, acredita que esta aproximação é positiva em função do aumento de transferência de tecnologia e mais entrada de capital estrangeiro.

Aço

Os semimanufaturados do aço são hoje o principal produto exportado pelo Ceará. O vice-presidente da Aço Cearense, Ian Correia, destaca que ainda não é possível medir como o setor será impactado, porque as medidas ainda não foram de fato apresentadas. Mas uma preocupação é sobre eventuais limitações impostas, como cotas e sobretaxas às importações de aço e alumínio brasileiro proposta pelos EUA em 2018. Além do impacto que as indústrias nacionais podem ter com a perda de acordos tarifários benéficos que o Brasil tem por estar na OMC, a exemplo da taxa de importação imposta a produtos como bobinas galvanizadas estrangeiras que entram no mercado brasileiro. Há um alerta também se houver um agravamento da guerra comercial entre EUA e China. "A aproximação com países desenvolvidos sempre é bem-vinda, mas não podemos esquecer que hoje a economia brasileira, não só o setor do aço, depende da China, tanto na importação como exportação".

Alimentícia

O Ceará tem hoje importantes empresas do setor de alimentos brasileiro. Na opinião do presidente do Sindialimentos, André Siqueira, a entrada do Brasil na OCDE pode ser estratégica ao País, mas ressalva que as medidas de abertura comercial devem ser analisadas caso a caso. "A flexibilização da entrada do trigo americano anunciada por Bolsonaro (750 mil toneladas com tarifa zero) é positiva para as empresas daqui, por exemplo, porque o País quase não produz e isso aumentaria a concorrência. Mas a redução da alíquota para importação do leite em pó, que tentaram fazer, não". O presidente do Sindilaticínios, Henrique Prata, diz que o Nordeste comprou muito pouco leite em pó de fora para seus produtos, mas toda vez que crescem as importações, os preços caem e a cadeia regional é prejudicada. "A gente não tem a mesma logística, energia é cara e paga mais impostos. O que defendo é que as tributações e as condições deveriam ser iguais para que a concorrência seja leal".

Frutas

O presidente da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos, diz que o melão cearense pode se beneficiar desta aproximação com os EUA se for estendido ao Brasil o tratamento que é dado hoje a países parceiros na América Central e do Sul, já que as taxas de importação praticamente inviabilizam as exportações para aquele país. O pleito foi feito pelo governo brasileiro, mas ainda não há retorno. Porém, a entrada na OCDE mediante a retirada do Brasil na OMC preocupa o setor, porque isso pode implicar aumento das taxas dos produtos cearenses em outros países onde a relação comercial é mais expressiva. "Há quatro anos a Europa já não adota mais o sistema de preferência da OMC para as frutas brasileiras, então não muda muito, mas mercados novos que estamos entrando como Rússia e Japão sim. E isso atrapalharia negócios futuros. A taxa na OMC para as frutas cai, em média, pela metade". Ele também vê com preocupação uma inclusão precipitada do Brasil no "clube dos ricos". "Perder a condição de emergente, sem deixar de ser não é bom. Nenhum país fica rico só por dizer que é".

Construção Civil

Para o presidente do Sindicato das Construtoras no Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, o setor no Estado, a priori, não tem um impacto direto significativo, mas tem muito a ganhar se a economia brasileira crescer com a entrada na OCDE. Para ele, o selo de qualidade favorece a atração de fundos de investimentos estrangeiros, assim como eventuais acordos com países mais desenvolvidos, para entrada de alguns insumos e tecnologia, que também podem ajudar a indústria brasileira a melhorar a produtividade. "Isso sem falar que cria uma pressão maior para aprovação das reformas tão necessárias para a economia do País voltar a crescer".

Indústria
Têxtil

O presidente do Sinditêxtil no Ceará, Rafael Cabral, explica que o custo Brasil e as variações cambiais dos últimos anos têm desestimulado muito as importações e exportações do setor para países como os EUA. "A princípio uma maior abertura comercial é vista com bons olhos, mas somente vamos poder dizer com mais certeza quando ficar mais claro o que será apresentado".

O que você achou desse conteúdo?