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Apoio ao empreendedorismo sustentável
Economia

Apoio ao empreendedorismo sustentável

| Microcrédito | Como alguns programas têm ajudado pequenos empreendedores a usarem financiamentos para alavancar negócios e não como fonte de endividamento
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NEILA Rodrigues estava desempregada e conseguiu crédito para comprar cosméticos para revenda (Foto: Mateus Dantas)
Foto: Mateus Dantas NEILA Rodrigues estava desempregada e conseguiu crédito para comprar cosméticos para revenda

Os micros e pequenos negócios respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e geram 82% do total de postos de trabalho no Brasil. Entretanto, atravessar os primeiros anos de mercado e sobreviver à crise econômica que ainda persiste no Brasil e cargas de juros elevadas não é tarefa fácil. Por isso é necessário apoio para que o empreendedorismo seja sustentável e não conheça a palavra falência pouco tempo depois de ser inaugurado. Os dados são do Data Sebrae, acessado neste mês, e Ministério do Trabalho, de 2015.

O Ceará tem a oitava maior taxa de mortalidade de negócios de dois anos dentre os estados brasileiros, de 25%, segundo o último relatório de Sobrevivência das empresas no Brasil, divulgado pelo Sebrae em 2016. São dois pontos percentuais a mais que a média brasileira. Isso considerando o cenário pré-crise já que os dados de referência são de aberturas realizadas em 2012.

A doutora em economia social pela Universidade de Madri, Silvana Parente, explica que não é possível atribuir a um único fator a causa da mortalidade, mas sim, a uma combinação de fatores que vão desde a falta de capacitação, de planejamento dos negócios, à dificuldade de acesso ao crédito e ao mercado.

E é neste ponto que reside um dos diferenciais da tecnologia do microcrédito produtivo orientado em relação a outras modalidades de empréstimo. Ela, que coordenou a implantação do Crediamigo, programa de microcrédito do Banco do Nordeste (BNB), em 1997, e já deu consultoria a vários bancos nesta área, explica que embora a capacitação do empreendedor não seja o papel da instituição financeira e nem deva estar condicionada à concessão do crédito, a figura do agente de crédito que dialoga com o cliente, conversa sobre fluxo de caixa, planejamento e orienta sobre o uso do empréstimo faz toda a diferença para aquele negócio.

"Não é só conceder o crédito. Se der muito dinheiro para aquele que está na subsistência, ele vai comer. Se for pouco, não vai conseguir fazer girar o negócio. É preciso estar próximo daquele cliente, entender aquela realidade, usar uma linguagem que faça sentido para ele".

Silvana reforça que é a figura do agente de crédito que faz a diferença também nos números do Crediamigo. E a razão para muitos bancos grandes terem dificuldade de entrar na baixa renda. "A lógica é diferente. Este tipo de metodologia ajuda bastante a evitar o superendividamento, ajuda o empreendedor a refletir sobre o uso, evita desvios, garantir o retorno do investimento".

 Na vida de Neila Maia Rodrigues, 30, a assistência recebida pelo banco Paju foi fundamental para que ela conseguisse progredir nos negócios. Assistente social por formação, ela começou a vender Avon em 2017. À época, estava desempregada e com um filho na barriga e sem muitas perspectivas quanto ao futuro.

Moradora do distrito de Pajuçara, em Maracanaú, recorreu ao banco comunitário do bairro para comprar mais mercadorias. Também fez, por intermédio do agente de crédito, oficina de capacitação, participou de palestras sobre gestão e encontros com outros empreendedores do bairro.

Cinco anos depois do primeiro dos muitos empréstimos, e com o suor do trabalho diário, conseguiu fazer um puxadinho na frente da casa da mãe para montar o Armarinho Perfumado. "Hoje não é mais uma renda extra, é o meu trabalho. Sou uma empreendedora", diz com orgulho.

História

> No Brasil, a primeira experiência em microcrédito foi do Programa Uno, de 1973 a 1991.

> Na década de 1980, surgiram as unidades da Rede Ceape e do Banco da Mulher, com objetivo de oferecer crédito a microempreendedores.

> Em 1996, o BNDES criou o Programa de Crédito Produtivo Popular (PCPP) para fornecer funding para organizações da sociedade civil especializadas em microcrédito.

> E em 1997, o BNB lançou o Crediamigo, maior programa da América Latina.

> Em 1999, organizações da sociedade civil de interesse público (Oscip) passaram a acessar recursos públicos para oferecer microcrédito.

> Em 2001, a Lei 10.194/2001 ajudou a impulsionar a iniciativa privada nesta modalidade.

> Em 2005, foi lançado o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO).

> Em 2011, o Governo Federal lançou o Programa Crescer, que oferece crédito a pequenos e microempreendedores.

> No ano passado, a lei 13.636/18 facilitou o acesso ao crédito para microempresários e autônomos.

Fonte: BNDES, Página do Microcrédito, portal do FAT.

A série

Esta é a segunda matéria da série de três reportagens sobre microcrédito no Brasil, no O POVO. A primeira, publicada ontem, mostrou como este tipo de crédito está mudando a vida das pessoas. A de amanhã trata sobre as perspectivas do microcrédito para o futuro e o que precisa ser feito para aumentar a capilaridade deste tipo de programa pelo País.

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