Dez anos depois do primeiro contrato assinado para as obras de duplicação e melhorias do anel viário da Região Metropolitana de Fortaleza, transitar pelos prometidos 32 km do projeto ainda exige muita habilidade e paciência.
No acesso a Maracanaú, que concentra equipamentos importantes para a economia do Estado como o Distrito Industrial e a Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), os engarrafamentos são constantes e, em alguns trechos da via, como do cruzamento com a General Osório de Paiva, os buracos na pista têm causado transtornos e prejuízos.
De acordo com o Departamento Estadual de Rodovias do Ceará (DER-CE), responsável pela obra, a expectativa é que a conclusão da via se dê no fim deste ano.
O prazo, sete anos depois do previsto inicialmente para que fosse finalizada a obra, foi reafirmado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em reunião, em Brasília, com o governador Camilo Santana (PT). Ele disse que enviaria uma equipe do Ministério e do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) a Fortaleza para dar o apoio necessário nas desapropriações.
De acordo com o DER, que assumiu a gestão do projeto em 2011 (até então a responsabilidade era do Dnit), as obras estão em andamento: principalmente na implantação dos viadutos da CE-060, em Maracanaú; da CE-065, em Maranguape; e da CE-040, no Eusébio.
Também está em fase de conclusão a duplicação do trecho entre a CE-065, Maranguape, e a CE-040, no Eusébio. E até o fim deste mês deve ficar pronta a duplicação entre a CE-065, em Maranguape, e a BR-222, em Caucaia.
Porém, relatos de quem passa diariamente pelo local colocam em dúvida esses prazos. "Até o fim do ano passado, a gente via as obras em ritmo acelerado, mas desde o início deste ano não se vê ninguém trabalhando em turno algum. O que é um prejuízo para nós, que passamos muitas horas presos em engarrafamentos, mas também para a própria obra, porque o tempo parado desfaz o serviço que foi feito, a chuva aumenta os buracos e quando retornarem têm que refazer tudo", afirma Lívia Aquino, que mora em Fortaleza, mas trabalha em Maracanaú.
Os constantes engarrafamentos já fizeram com que indústrias como a Durametal, no Distrito Industrial de Maracanaú, que tem mais de 490 funcionários, mudasse os turnos de trabalho dos funcionários. "Só que saindo mais tarde ainda tem a questão da insegurança", pondera a gestora de RH da empresa, Nilda Borges.
E não é a única. Os atrasos constantes encarecem a logística. Outro problema é a falta de fiscalização nos desvios, diz o gerente da cadeia de suprimentos da Avco Polímeros, Nivaldo Tornisiello. "Há um desrespeito de parte dos usuários que andam na contramão, no acostamento e isso expõe a vida de todos"
No trecho da CE-020, que já foi concluída, há queixas em relação à iluminação. Mas tanto na Osório de Paiva, quanto nas proximidades da Ceasa, há reclamações de que as obras não estão avançando. Enquanto isso, acidentes, buraqueira e atrasos se tornaram mais comuns, relata o auxiliar de compras, Fábio Fernandes. "Está muito ruim".
Entenda o histórico
O que é o projeto?
O projeto do Anel Viário tem 32 km de extensão, começa na CE-040 (Eusébio), cruza a BR-116 (Itaitinga), passando ainda pela CE-060 (Maracanaú), CE-065 (Maranguape) e BR-020 (Caucaia), indo até avenida Mister Hull (BR-222, em Caucaia). Além da duplicação, o projeto prevê acostamento, três pontes e sete viadutos.
O que já foi feito?
De acordo com o DER, até agora, já foram finalizadas as pontes localizadas sobre o Rio Coaçu, Rio Gavião e Rio Siqueira, além de quatro viadutos: entroncamento da CE-065, BRs-020/222, Nova Metrópole e Tronco Norte.
Além disso, está em fase de conclusão a duplicação do trecho entre a CE-065, Maranguape, e a CE-040, no Eusébio. Com o fim das obras no trecho, haverá liberação de tráfego de veículos sob o viaduto da CE-060, no sentido Caucaia-Eusébio. E até o fim deste mês também deve ficar pronta a duplicação de sete quilômetros, entre a CE-065, em Maranguape, e a BR-222, em Caucaia.
Quanto já foi gasto?
De acordo com o relatório de fiscalização do TCU, o contrato inicial com o consórcio Galvão - EIT, firmado em 2009, previa um gasto de R$ 195,2 milhões. Hoje, o valor está estimado pelo DER em R$ 255 milhões, sendo R$ 83 milhões o contrato atual firmado com o consórcio Souza Reis, Jurema e Geosistemas, responsável pela execução do projeto. Mas o órgão não diz quanto já foi consumido dos recursos.
Os impactos da demora
José Clodomir, borracheiro
José Clodomir, 50 anos, mora há 20 anos na Osório de Paiva e há dois mantém uma borracharia bem na beira da pista. Ele diz que desde o ano passado não vê movimentação de obras no trecho.
Nilton Matos de Lima Souza, caminhoneiro
Diariamente, o caminhoneiro Nilton Matos de Lima Souza sai de Russas em direção à Ceasa,em Maracanaú. E diz que para além do tempo perdido em congestionamento o que preocupa é a condição das vias. Neste mês, perdeu uma parte da lataria da frente do caminhão ao cair em um buraco.
Victor Praça,
vice-presidente da Aedi
A demora na conclusão das obras do Anel Viário tem gerado vários transtornos às empresas instaladas no Distrito Industrial de Maracanaú. Porém, o vice-presidente da Aedi, Victor Praça, chama atenção para a questão da insegurança e a
falta de previsibilidade quanto ao fim da obra.