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Ceará negocia com companhias aéreas para turbinar stopover
Economia

Ceará negocia com companhias aéreas para turbinar stopover

| AVIAÇÃO | Hoje, o Governo do Ceará recebe a Air France-KLM e a TAP para parcerias que possibilitem ao turista que faz conexão em Fortaleza estender a estada com benefícios
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A FOTO marca o batismo de aeronaves da Air France na inauguração do hub em Fortaleza (Foto: MATEUS DANTAS)
Foto: MATEUS DANTAS A FOTO marca o batismo de aeronaves da Air France na inauguração do hub em Fortaleza

Conhecer duas cidades ou mais sem pagar passagem aérea extra por isso. A lógica por trás dos programas de stopover das companhias aéreas para os voos com conexão, comuns no Exterior, ganha força no Brasil como estratégia dos estados para dinamizar o turismo. Hoje, o secretário do Turismo do Ceará, Arialdo Pinho, recebe, em Fortaleza, a direção da Air France-KLM e da TAP para impulsionar estes programas no Estado.

Desde junho do ano passado, o hub da Air France-KLM já possibilita aos turistas que vêm de Belém, Manaus, Natal, Recife e Salvador, com destino à França ou Amsterdã, que possam, em cada trecho da viagem, ida ou volta, selecionar gratuitamente o stopover em Fortaleza. Não há limite de dias no destino de parada, desde que respeitada a estada máxima permitida no tempo total da viagem, com base nas condições tarifárias.

Porém, a ideia de Arialdo é que este programa seja mais atrativo. "Vamos apresentar uma proposta de parada de cinco dias, além de um modelo de aplicativo em que o turista possa desfrutar de descontos em táxi, transporte, hotelaria, hotéis e restaurantes", afirmou.

Procurado, o grupo Air France-KLM informou que não abre dados locais sobre quantitativo de usuários que já desfrutam do stopover na Cidade. Mas diz em nota que o objetivo da reunião é "seguir discutindo melhorias para o aprimoramento contínuo da operação".

Já a TAP, que tem no programa de stopover em Lisboa, Portugal, uma rede com mais 150 parceiros, ainda não tem ações similares no Brasil. Mas está conversando com cidades brasileiras, incluindo Fortaleza. Da agenda com Arialdo, devem participar o diretor geral da TAP no Brasil, Mário Carvalho, e o diretor de Marketing, Francisco Guarisa.

O modelo proposto pelo Ceará, aliás, segue a linha do stopover da TAP em Portugal. Mas não é o único estado que está de olho. São Paulo, por exemplo, ao anunciar anteontem a redução de 25% para 12% a alíquota do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide sobre o combustível de aviação, lei similar à implantada no ano passado no Ceará, informou que pretende apresentar seu programa de stopover em 30 dias.

O projeto prevê fundo de R$ 40 milhões, formado pelas companhias, para custear um plano de marketing para fomento à ampliação da permanência de visitantes em São Paulo por um ou dois dias a mais que o previsto. A Bahia também está em contato com a TAP para atrair um programa que garanta parada voluntária superior a 24 horas, antes do embarque, para o destino final.

 

Disputa entre companhias favorece o consumidor

Embora não seja a principal determinante de uma viagem, os programas de stopover oferecem benefícios capazes de gerar economia ao turista, dinamizar o turismo das cidades que funcionam como centro de conexões, acirrar a concorrência entre as áreas e, por consequência, também contribuir para baixar os preços das passagens. A avaliação é do gerente geral de lazer da Casablanca Turismo, Paulo Neto.

"O cliente usa isso como benefício de visitar mais de um destino. É um programa que faz sentido para cidades que concentram grande número de voos e Fortaleza está vivenciando um novo momento. O último balanço da Fraport, que administra o Aeroporto de Fortaleza, mostra que o volume de turistas internacionais cresceu 60% em 2018", afirma.

Ele alerta, no entanto, que para dar certo é preciso que a cidade que oferece a conexão tenha bons atrativos para justificar a permanência do turista.

A experiência do sistema de stopover da TAP em Portugal, que possibilita paradas de até cinco dias em Lisboa ou Porto, com descontos em várias empresas parceiras, sinaliza que há uma forte tendência de aceitação deste modelo no Brasil. Dos mais de 1,7 milhão de acessos do aplicativo, desde o seu lançamento, em 2016, 60% dos downloads foram no Brasil.

Segundo a companhia, a média de passageiros que realiza stopover por reserva é de 1,8%. Sendo que 29% das reservas possuem um passageiro, 41% dois passageiros, 12% três passageiros, outros 12% quatro passageiros e 6% têm cinco ou mais, com uma média geral de 2,3 dias de stopover por reserva.

A possibilidade de trazer este programa para o Ceará anima o setor turístico. "É uma grande oportunidade de fazer com que aquele turista que, em tese, estaria aqui só de passagem, possa desfrutar de alguns dias a mais na Cidade, injetando recursos na economia local", afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira de Hotéis do Ceará (ABIH- CE) e secretário do Turismo de Fortaleza, Régis Medeiros.

A presidente do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Fecomércio-CE e presidente do Sindieventos, Circe Jane Ponte, diz que há muitas empresas locais, como hotéis, bares, restaurantes e o comércio em si interessados em oferecer descontos, em parcerias com as aéreas, para garantir uma permanência maior do turista. "Tudo que pode incrementar a malha aérea é interessante, porque ajuda a conquistar mais espaço no turismo".

Benefícios dos hubs aéreos no Ceará

No Ceará, os hubs aéreos usufruem de isenção de ICMS sobre a aquisição de querosene de aviação e operações e serviços internos de importação de materiais e equipamentos aéreos, como aeronaves e peças.

 

Stopover, um bom aperitivo

O nome pode até soar um pouco estranho e causar confusão na hora de comprar uma passagem aérea. Ainda mais ao se sugerir a ideia de uma parada que não é escala, nem conexão e tem previsão de durar alguns dias até a tão esperada chegada ao destino final. Para quem viaja — sobretudo a lazer — o stopover é opção para aproveitar alguns poucos dias um determinado local. E, a partir desse intervalo de tempo menor, surgir o interesse por um retorno para uma viagem mais longa. Utilizar o stopover é oportunidade para ampliar experiências, sem elevar muito os custos da viagem e sem fazer deslocamentos cansativos.

Tive recentemente a oportunidade de fazer uma viagem com stopover de dois dias via Copa Airlines na Cidade do Panamá, antes de uma viagem mais longa a Havana. Embora curta, a primeira perna da jornada foi surpreendente o bastante para despertar a vontade de voltar para passar mais tempo.

Um ponto importante para a satisfação do viajante com a parada é que a cidade e a companhia aérea que ofertam esse tipo de serviço disponibilizem experiências de viagens voltadas para quem passa poucos dias em um local. Muitas cidades que já recebem fluxos maiores de turistas por stopover e já desenvolveram roteiros específicos para os que estão em curta estada, pensando justamente no máximo aproveitamento da viagem. Lisboa (via TAP) é um exemplo de parada antes de outros destinos na Europa.

Parcerias com hotéis — com o objetivo de dar descontos em hospedagem para viajantes de stopover — podem se tornar potenciais oportunidades para desenvolvimento do serviço. O mesmo vale para parcerias com agências ou empresas que ofereçam pacotes ou transfers para visitas rápidas a pontos turísticos.

Para o turista, uma dica é evitar o atropelo de querer fazer tudo em pouco tempo. É ter a consciência de que o stopover é um complemento da viagem. Ou um aperitivo para um futuro retorno.

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