Quase um ano depois de ter sido aprovada pela diretoria da Vale S/A, em 2 de outubro de 2017, a venda da totalidade das ações da Vale Pecém S/A, empresa do grupo que realiza a mistura e o transporte de minério de ferro exclusivamente para a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), ainda não saiu do papel. A transação seria feita para a própria siderúrgica, joint venture formada pela Vale S.A e pelas sul-coreanas Dongkuk e Posco.
O balanço financeiro publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), do último dia 13, aponta um prejuízo acumulado da empresa de R$ 149,5 milhões, de 2016 a 2017. Na avaliação de economistas ouvidos pelo O POVO, no entanto, o número negativo não representa ameaça ao projeto da siderúrgica implantada no município de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Conforme divulgado na coluna Raone Saraiva, com exclusividade, na edição do último dia 16, o relatório da auditoria independente da KPMG no Brasil sobre o balanço do exercício social da Vale Pecém de 2017 alerta para "incerteza relevante quanto à capacidade de continuidade operacional da sociedade".
O economista Renato Aguiar, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), explica que o prejuízo não significa risco à continuidade do projeto da siderúrgica, em operação desde junho de 2016, já que boa parte do déficit está ligada a fatores não operacionais. A despesa administrativa, por exemplo, não chega a R$ 14,2 milhões.
Segundo ele, o que pesa nas contas da Vale Pecém é o impairment de seus ativos imobilizado e intangível. Ou seja, a contabilização de uma espécie de desvalorização desses ativos em relação ao valor atual de realização/recuperação dele.
"Mas a Vale S/A, controladora da Vale Pecém, também já assumiu o compromisso de financiar toda a sua operação ao longo de 2018, não necessitando da sua geração de caixa e/ou lucro para a manutenção da empresa nesse período, condição observada nos dois últimos exercícios, cujos déficits de caixa foram integralmente financiados por integralizações de capital e/ou adiantamento para futuro aumento de capital (Afac), realizados pela sua Controladora", afirmou.
Outro economista ouvido pelo O POVO, que preferiu não se identificar, explica que a própria decisão da diretoria da Vale S/A que aprovou a venda de 100% das ações da Vale Pecém para CSP, por US$ 30 milhões, sinaliza que o próprio teste de impairment seja para atualizar os números para esta venda. "Para a CSP, talvez haja o entendimento que vai sair até mais em conta, observando o custo-benefício, adquirir a Vale Pecém. Na verdade, na prática, seria como se a CSP deixasse de ter uma empresa terceirizada e passasse a fazer por conta própria o transporte de minério que é adquirido da Vale".
Procurada, a Vale S/A não se manifestou sobre o assunto, nem a respeito dos motivos que impedem a venda da empresa para Cipp S/A (nova nomenclatura do Porto do Pecém) e nem prazo para transação. A CSP, por sua vez, informou que "não comenta questões de seus fornecedores e acionistas".