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O cidadão como fiscalizador das contas públicas
Economia

O cidadão como fiscalizador das contas públicas

| EDUCAÇÃO | Em Bela Cruz, no interior do Ceará, dois alunos de escola pública criaram uma plataforma para monitorar os gastos do Município e cobrar o bom uso do dinheiro
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Sabe aquele papel de campanha dos candidatos tão comum no período eleitoral e que, na maioria das vezes, vai parar no lixo? Nas mãos de Maycon Moura, 16, e Samuel Pinto, 17, dois estudantes da Escola Estadual e Profissional Júlio França, na cidade de Bela Cruz (CE), distante 237,1 quilômetros de Fortaleza, foi o ponto de partida para a criação do X-Guardião, plataforma que fiscaliza as obras e recursos públicos do Município.

 

O projeto foi um dos vencedores da Milset Expo Brasil 2018, ocorrida em maio, em Fortaleza, o que rendeu o convite para apresentar o projeto no próximo mês na feira internacional, no Paraguai.

 [SAIBAMAIS]

"Muitas vezes, essas promessas acabam se perdendo porque a população é muito passiva. Isso nos incomodava. Mas como a gente pode cobrar, se nem sabe quais são as propostas? Não tem nenhum monitoramento, por isso decidimos criar a plataforma para acompanhar melhor os gastos", diz Samuel.

 

Sob a supervisão do professor Fernando Nunes e com os conhecimentos de educação financeira e fiscal que estão aprendendo no curso de finanças da escola profissionalizante, eles criaram a plataforma que, desde o ano passado, além de disponibilizar dados da arrecadação de impostos e dos portais de transparência, acompanha o andamento de obras públicas em diversas áreas.

 

Para cada ponto previsto no programa de governo, um ícone indica se a proposta está concluída, em andamento ou se não foi iniciada, acompanhado das justificativas obtidas junto à respectiva secretaria e das observações próprias.

 

"No início, os secretários ficaram surpresos, porque não era todo mundo que aparecia lá com uma ideia dessas, mas hoje já estão bem acostumados. A gente pergunta de prazo, pede evidências de que aquilo está sendo cumprido e, quando é mais perto de casa ou da escola, a gente vai até lá para ver", afirma Samuel.

 

Além disso, pela própria plataforma ou nas reuniões de base que fazem com as associações comunitárias, eles também coletam reclamações que poderão ser checadas. Oito reuniões foram realizadas, sendo as demandas mais comuns problemas na coleta de lixo e iluminação pública. "Uma das principais preocupações é tornar esses dados mais acessíveis. Isso porque, muitas vezes, está lá, mas pouca gente entende", afirma Fernando.

 

Checar dados em meio a provas, estágio e deveres de casa, não é fácil. Por esta razão, nem todas as áreas têm atualização constante. Maycon, por exemplo, informa que só consegue mexer na plataforma nos horários de atividade extra na escola e à noite, em casa, no computador emprestado da irmã. Mas destaca que a experiência tem sido recompensadora em muitos sentidos.

 

"Nós, como jovens, somos protagonistas de um mundo melhor.Com certeza, a gente já percebe as pessoas mais ativas", diz.

 

Com mais de 30 mil visualizações, o professor Fernando conta que o X-Guardião passou a ser uma espécie de porta-voz da comunidade. "O controle social é o antídoto contra corrupção", observa.

 

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