Não só a violência, mas a desilusão política e a crise econômica também têm levado brasileiros a buscar oportunidade em outros países. Portugal tem sido um dos mais procurados, mas também cresce o número de interessados em se mudar para países de língua inglesa como os Estados Unidos. O país possui 187 tipos de visto, tanto de imigração como temporários, segundo dados apresentados no Hayman-Woodward Summit, que ocorreu em São Paulo na última semana.
"Existem estados pagando 300 mil dólares por ano para profissionais de saúde", afirma Leonardo Freitas, sócio-fundador da Hayman-Woodward, empresa de assessoria e consultoria em imigração e investimentos no exterior. Ele explica ainda que, diferentemente de outros países, como Canadá e Austrália, os Estados Unidos não exigem provas de proficiência para residentes, a menos que tenham interesse em se tornar cidadãos americanos. A procura pelos serviços da empresa cresceu 200% nos últimos 12 meses. A expectativa é de que aumente em igual ritmo até o fim de 2019. A carteira de clientes em 2016 era de 300 pessoas, até agosto deste ano já ultrapassa 2 mil.
De acordo com o livro "Brasileiros nos Estados Unidos: Meio Século Refazendo a América (1960-2010)", os brasileiros têm o menor índice de desemprego entre imigrantes (5%) nos Estados Unidos. Também são os que mais possuem carreiras autônomas (69%), superando inclusive os americanos nativos (9%). Configuram ainda melhor renda média familiar entre imigrantes e americanos (US$ 55.463 por ano). A publicação se baseia em levantamento do censo americano de 2014. Segundo o Itamaraty, cerca de 1,3 milhão de brasileiros vivem nos Estados Unidos atualmente.
Os especialistas em imigração explicam que os caminhos para a residência legal ainda são desconhecidos da maioria dos brasileiros. O perfil do imigrante do Brasil também tem mudado. Já não é mais de pessoas de baixa escolaridade, que vivem de subempregos, mas de profissionais especializados ou de empreendedores que buscam oportunidades no país.
"É preciso acabar com essa mentalidade de brasileiro que vai para os Estados Unidos só para fazer faxina ou dirigir Uber. Tem como ir com visto, trabalhar legalmente e colaborar para o país. É isso que eles querem, pessoas que somem", explica o consultor da Hayman-Woodward, Enio Bitencourt. Ele hoje mora com a mulher e os dois filhos na Califórnia, estado que abriga 10% dos brasileiros que moram no país. Bitencourt diz ainda que, nem só empreendedores ou compradores de imóveis têm chances de conseguir o green card, profissionais com habilidades excepcionais também são fortes candidatos.
O publicitário, empreendedor e professor de ensino superior Marcelo Flores se encaixa no perfil de imigrante brasileiro qualificado. Ele reuniu documentos e as finanças para tentar o green card, e passar para cidadania americana. Flores, que trabalha com eventos, tem nacionalidade espanhola, mas vê os Estados Unidos como país mais favorável para investimentos e com melhores chances de sucesso na carreira de marketing e entretenimento. O processo para residência em casos como o de Flores, demoram em média 10 meses para se desenrolarem.
"Tenho uma possibilidade boa de ter um futuro próspero. Vou fazer tudo 100% planejado. Questão financeira econômica tributária e de família. Construir isso junto com a família", afirma.
Estados
63% dos brasileiros nos Estados Unidos estão na Flórida (20%), na Califórnia (10%), em Massachusetts (17%), em Nova York (7%) e em Nova Jersey(9%). Os demais 45 estados somam 37% de brasileiros.
Censo
Levantamento do censo americano aponta que brasileiros possuem maior grau educacional que a média de todos os imigrantes: 46% com ensino médio completo e superior incompleto e 30% graduados no ensino superior, contra 35% e 23% dos demais.