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Para evitar gastos, 77% dos cearenses realizam afazeres domésticos
Economia

Para evitar gastos, 77% dos cearenses realizam afazeres domésticos

PNAD | De acordo com o IBGE, cresceu em 2017 o número de pessoas que executam as atividades do lar
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O cearense continua se equilibrando quando o assunto é evitar gastos com afazeres domésticos. É o que afirma a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad): Outras formas de trabalho 2017. O documento, formulado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 77% da população com idade para trabalhar (a partir de 14 anos) cuida da limpeza da casa, do banho e tosa do cachorro e até do conserto de eletrodomésticos em vez de contratar serviços especializados. O crescimento foi de 3,3 pontos percentuais (p.p) ante 2016.

 

Ter um olhar mais cuidadoso com essas atividades é reflexo da crise que afetou os lares de 2015 a 2017. Assim avalia Ricardo Coimbra, mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). “A pessoa, sabendo da capacidade de resolver demandas pessoais ou familiares, as executa. Acaba gerando algum tipo de atividade no meio familiar, considerando seu potencial produtivo”, considera. Alguns acabam seguindo caminho alternativo e resolvem montar um empreendimento. “Se antes o indivíduo cortava cabelo do filho e enxergava uma oportunidade, acabava tendo motivação para ganhar um recurso extra ou até mesmo dedicando energias àquele negócio que antes fazia para reduzir gastos”, explica.

 

Mas o movimento requer cautela. “Se por um lado os afazeres domésticos significam uma certa independência, para estabelecimentos especializados se traduz em queda generalizada dos negócios, com impacto significativo nas vendas e/ou serviços”, diz.

 

De acordo com o economista Lauro Chaves Neto, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), a crise econômica é apenas mais um indicador. “Isso também tem a ver com a mudança das famílias que estão menores e exigem gastos mais enxutos, além da questão da violência. As pessoas preferem executar as atividades em casa pois se sentem mais seguras”, complementa.

 

Encabeçam as atividades consideradas afazeres domésticos: arrumar a mesa ou lavar a louça; limpar ou arrumar o domicílio, garagem ou quintal; cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados); fazer compras ou pesquisar preços de bens e cuidar de animais.

 

No que diz respeito à produção para o próprio consumo, o percentual é de 9,4% da população com idade para trabalhar. A representatividade maior é dos homens, que correspondem 11,7%, enquanto as mulheres ficam com 7,3%. As atividades englobam cultivo, pesca, criação de animais; produção de carvão, corte ou coleta de lenha, palha ou outro material; fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas, alimentos e outros produtos etc.

 

MULHERES PREDOMINAM

No indicador de afazeres domésticos, a predominância é de mulheres. E 88,1% dessa população feminina tem idade para trabalhar (a partir de 14 anos). Entre os homens, são 64,8%. No entanto, no segmento de trabalho para próprio consumo, o público masculino concentra 11,7% da população, enquanto as mulheres se posicionam com 7,3%.

 

CUIDADO COM PESSOAS

A captação das informações sobre os cuidados de pessoas é feita com base em seis conjuntos de atividades, entre elas: auxiliar nos cuidados pessoais (alimentar, vestir, pentear, dar remédio, dar banho, colocar para dormir); auxiliar nas atividades educacionais; ler, jogar ou brincar; monitorar ou fazer companhia dentro do domicílio; transportar ou acompanhar para escola, médico, exames, parque, praça, atividades sociais, culturais, esportivas ou religiosas; e outras tarefas de cuidados de moradores. No Ceará o percentual chegou a 30% da população em 2017, sendo que as mulheres (37,7%) com idade para trabalhar levam vantagem, ao passo que os homens representam (22,4%).


TRABALHO VOLUNTÁRIO

Conforme a PNAD Contínua, no Ceará, 248 mil pessoas realizaram trabalho voluntário em 2017, o que corresponde a 3,4% da população. Em relação a 2016, houve um aumento de 6,4% no contingente. No Brasil, entre 2016 e 2017, o percentual de pessoas que realizaram trabalho voluntário subiu de 3,9% para 4,4%, chegando a 7,4 milhões de pessoas. Proporcionalmente, as mulheres fizeram mais trabalho voluntário que os homens (5,1% frente a 3,5%). Quanto maior o nível de instrução, maior a taxa de realização: 2,9% das pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto realizaram trabalho voluntário, já entre as pessoas com superior completo o percentual foi de 8,1%.). 

 

PRÓPRIO CONSUMO

Em 2017, 7,4% (12,4 milhões) das pessoas com idade para trabalhar realizaram algum tipo de serviço para o próprio consumo. Quanto maior o nível de instrução, menor a taxa desta realização, indo de 12,9% entre as pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto a 2,7% entre as tinham o ensino superior completo. As atividades de produção para o próprio consumo mais realizadas foram cultivo, pesca, caça e criação de animais (76,4%), seguida por produção de carvão, corte ou coleta de lenha, palha ou outro material (16,9%).

COMEÇA DESDE CEDO

A Pnad Contínua mostra que a desigualdade dentro de casa começa cedo no País: na faixa de 14 a 24 anos, 85,2% das meninas realizam afazeres domésticos; entre os meninos, o índice é de 63,5%. Na faixa 25 a 49 anos, o índice feminino é 95,4%; o masculino, 80,9%; de 50 anos em diante, a diferença é de 11,5 pontos porcentuais (90,8% contra 79,3%). As mulheres estão na frente quando se analisa o tempo gasto com lavagem de roupa e louça, preparo de alimentos e arrumação da casa. A exceção é a execução de reparos ou manutenção do domicílio, citado por 63,1% deles.


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