No Ceará, mulheres investem 8% a menos do que os homens, em média R$ 218,50 contra R$ 236,39. Porém, no comparativo do País o contraste é ainda maior, uma diferença de 29% a menos do que os homens, investindo R$ 135,79 enquanto os homens aplicam R$ 190,56. A pesquisa foi realizada pelo aplicativo GuiaBolso com 43.500 pessoas, de novembro de 2017 a janeiro deste ano. O estudo não avaliou os tipos de investimento dos usuários, mas os dados bancários da movimentação das contas.
Para Paula Crespi, diretora de Marketing do GuiaBolso, a educação financeira tem pouca comunicação direcionada às mulheres, o que pode gerar a sensação de que não é um ambiente para elas. Sobre o porquê de as cearenses investirem mais do que a média nacional, Paula diz que o estudo não fez essa investigação. A diferença pode estar relacionada ao perfil de outros estados, onde as pessoas investiriam mais por meio de corretoras do que pelos bancos, não aparecendo, portanto, na amostra pesquisada.
[SAIBAMAIS]Na avaliação de Alessandra Benevides, professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral, a diferença de investimentos entre homens e mulheres pode ser um reflexo do desnível salarial. “A diferença de salários vem caindo, mas lentamente”. Enquanto houver reforço de alguns estereótipos, como o de que a mulher prioriza apenas a família, por exemplo, será difícil ocupar um lugar de destaque no mercado de trabalho, observa Alessandra.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres recebem 75% do salário dos homens, mesmo sendo mais escolarizadas que eles. Em 2016, enquanto o rendimento médio mensal dos homens era de R$ 2.306, o das mulheres era de R$ 1.764, relata o estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, do IBGE.
No caminho da administração da própria renda, a mulher enfrenta vários desafios que impactam diretamente na possibilidade de investir. “Ela ganha menos e eu acredito que tenha mais responsabilidades”, aponta Alessandra. Com a maternidade, por exemplo, vêm os custos com os filhos, nem sempre compartilhados com o pai, e também a instabilidade no emprego. “Ser mulher é difícil no mercado de trabalho brasileiro”, avalia.
De acordo com o IBGE, o percentual de ocupados trabalhando por tempo parcial (até 30 horas semanais) é maior entre mulheres (28,2%), quando comparado com os homens (14,1%). A carga reduzida pode traduzir a necessidade de a mulher conciliar trabalho e cuidados com a família.
O especialista em investimento, Samuel Magalhães, também acredita na diferença salarial como fator influenciador na hora de investir. “Com um padrão de renda maior, a tendência é que sobre mais dinheiro (para os homens)”, avalia. No entanto, a questão cultural é outro fator. “Sempre foi esperado do homem ter o controle sobre as finanças. A mulher ficou à mercê disso. Evidentemente, as coisas estão mudando, mas não se muda uma realidade de décadas da noite para o dia”. O empoderamento da mulher sobre o próprio dinheiro mostra um horizonte que contribui para a mudança, analisa Samuel.
DADOS DA PESQUISA
O estudo do aplicativo GuiaBolso foi realizado entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, levando em consideração movimentações bancárias de 43.500 usuários