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O Brasil que precisa crescer em 17 anos, diz diretor do BNDES
Economia

O Brasil que precisa crescer em 17 anos, diz diretor do BNDES

| ENTREVISTA | Carlos Alexandre Da Costa, diretor da área de Crédito, Tecnologia da Informação e Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destaca os mecanismos para o Brasil crescer
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O plano estratégico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem prazo: desenvolver o País até 2035 por meio de propostas para aumentar a produtividade, a economia, alavancar recursos e estimular o crescimento do mercado de capitais. Este último, aliás, pode ser responsável pelo aumento significativo do Produto Interno Bruto (PIB) em investimentos no País. Quem garante é Carlos Alexandre Da Costa, diretor da área de Crédito, Tecnologia da Informação e Planejamento do BNDES.


Com experiência em gestão de empresas e desenvolvimento de executivos, ele já atuou como membro-convidado do Comitê Executivo da Grendene por cinco anos. Com pouco mais de quatro meses à frente de três áreas estratégicas do banco, Alexandre concedeu entrevista ao O POVO na unidade regional BNDES em Recife. Também destacou os principais mecanismos de transformação do País.


O POVO - Como nasceu a ideia de criar um plano para desenvolver o País em 17 anos?


Carlos Alexandre - Reunimos especialistas de dentro e de fora do banco para estudar se o Brasil conseguiria ser um país desenvolvido, considerando não só no BNDES, mas também outras áreas do Governo, do próprio setor privado. O que define um país desenvolvido é o nível de renda per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O que nós observamos nas nossas projeções é que se fizéssemos um trabalho nas nossas bases, com o País crescendo 2,8% ao ano em sua renda per capita e evoluindo nos indicadores de educação e saúde, chegaríamos lá. Não é muito, mas não é fácil aumentar os indicadores de expectativa de vida.


OP - Quais as ações, na prática?


Alexandre - A vantagem do Brasil é a desvantagem de quem sofre, pois existem muitas pessoas com expectativa de nascer baixa. Como assim vantagem? Com algumas ações, conseguimos ter impactos substanciais, diferentemente do Japão, que não consegue realizar políticas públicas para aumentar a expectativa de vida da população. Aqui não. Saneamento, água potável e tratamento de esgoto têm um impacto muito grande na expectativa de vida em regiões mais pobres. O Brasil tem muito a fazer. Temos que estimular a construção de creches e treinamento profissional e educação profissionalizante. Isso também induz ao desenvolvimento. Mais pessoas educando remonta em mais capital humano. Esse ainda é um dos maiores gargalos do País. Esse grupo de especialistas fez essas simulações e chegou à conclusão que em 2035, se fizermos as coisas adequadas, o Brasil escapa da armadinha da renda média, chega a uma renda alta e eleva o IDH a nível de países desenvolvidos.


OP - O plano considera as diferenças regionais?


Alexandre - Sim. É esse o lado que permite que essa transição seja feita de forma mais rápida. Por quê? Quando você tem uma expectativa de vida ao nascer de 75 anos, para você ganhar um ano é difícil. Quando a expectativa de vida ao nascer é de 65 anos, porque as condições são inadequadas, como saúde básica, alguns investimentos focados são responsáveis por essa melhoria. O fato de termos vários Brasis é o que nos permitirá sermos um país desenvolvido. Se fossemos homogêneos, seria mais difícil. Por isso nosso foco do Nordeste, e aqui é provável que tenhamos o maior impacto nas melhorias.


OP - A inovação também é um dos pilares?


Alexandre - O Brasil não vai se tornar um país desenvolvido se continuar fazendo o básico. Qual seria o básico? É termos população para fazer tarefas repetitivas na indústria, por exemplo. Isso nos permite ser um País dentro da média. Precisamos ter pessoas capacitadas para as tecnologias mais novas. Pessoas que saibam programar, outras que saibam lidar com indústria 4.0, outros capazes de fazer design. São atividades de alta agregação de valor. Numa indústria calçadista, um profissional que realiza uma atividade repetitiva o faz muito bem. O valor adicionado não permite que sua renda seja mais alta, porque por mais que seja produtiva, ele vai ter um espaço de atuação limitado. Mas se outro tiver treinado para realizar a programação de um robô, ele terá um valor adicionado maior. São coisas que dependem de capital humano e de uma estrutura que incorpore inovação e novas tecnologias. Assim conseguimos chegar nas fronteiras das possibilidades de produção.

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OP - O que se deve estimular nas regiões?


Alexandre - Vi a Grendene fazendo isso lá em Sobral. Ela substituindo, em determinadas linhas, trabalhadores que faziam serviço repetitivo por alguém que já operava um robô. O tipo de valor adicionado é outro. O que foi feito em Sobral, no passado, foi colocar as pessoas de subsistência para fazer tarefas repetitivas. Deu um salto na vida das pessoas, mas não leva a um estágio de um país desenvolvido. Não só a Grendene, mas a educação em Sobral melhorou, houve um trabalho coordenado para que isso se desenvolvesse. É isso que queremos estimular em outras regiões .


OP - Como entraria no mercado de capitais?


Alexandre - Não conseguimos fazer isso só com os recursos do BNDES. O Brasil precisa investir 25% do PIB. Ano passado foi 16%. O BNDES não deve passar de 1,5% do PIB de capacidade de desembolso. Mas o que precisamos fazer: temos 1,5% para desembolsar. Podemos pegar esse dinheiro, mobilizar esse mercado de capitais e colocar mais 4%, 5% adicionais do PIB junto conosco, com o banco dando garantias, estruturando operações e operando mais no início, em que o acompanhamento é mais intensivo. Por isso a importância do mercado de capitais. Temos 1,5% da nossa capacidade insuficiente. Saltar de 16% bem investidos para 25% faltam mais 9%. Então, se o BNDES conseguir trazer mais cinco, é mais da metade para o banco fazer com que o Brasil seja um país desenvolvido.


OP - O que o próximo presidente deve priorizar na infraestrutura?


Alexandre - Mobilidade urbana. As pessoas, para viverem bem, precisam se movimentar melhor. Nós inclusive estamos fazendo com a secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) um estudo sobre rodovias e interconexões no Brasil. Também é preciso pensar em saneamento. Não que outras áreas não sejam necessárias. Energia é fundamental, portos, mas são investimentos que terão de ser feitos depois. ICT (Tecnologia de Informação e Comunicação) e internet de alta velocidade. São as três grandes prioridades.


OP - A capacidade de empréstimo do banco foi prejudicada com o desequilíbrio fiscal dos anos de 2016 e 2017?


Alexandre - Somos parte do Governo e fomos chamados a fazer nossa parte. Mas não é restringindo nossos desembolsos que faremos nossa parte. O equilíbrio fiscal depende de crescimento. O que precisamos é ser um banco eficiente. Estamos entre os maiores do mundo. Além disso, há efetividade do nosso desembolso. O mesmo real que colocamos tem de gerar investimento. Não podemos reclamar. Mas não fomos afetados pela necessidade do Governo em resolver seu grave problema fiscal. Até porque só chegaremos em 2035 se tivermos equilíbrio fiscal. Se não tiver equilíbrio fiscal, pode esquecer. Mas acredito que estamos encaminhados.

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