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Data Center com 70% da capacidade vendida
Economia

Data Center com 70% da capacidade vendida

Cinco meses antes de entrar em operação, empresa angolana, com sede em Luanda, já estuda aumentar o investimento na Capital e fechou contrato com grandes provedores de Internet do Nordeste, como Wirelink e Tely
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Com 70% da capacidade do Data Center, em construção na Praia do Futuro, vendidas, a empresa africana Angola Cables já estuda entrar na segunda fase do programa de distribuição e venda de dados em Fortaleza. O centro de armazenamento de informações aporta a estação de cabos submarinos de fibra óptica, que ligam Luanda (Angola) à Capital cearense. As operações começam a partir de abril de 2018 e aumentarão a velocidade na Internet.


“A Angola Cables tem uma missão, que é interligar. É no Nordeste que ela pretende expandir sua rede, estrutura e busca criar ali um ecossistema de interconectividade e armazenamento e processamento de dados”, disse Rafael Pistono, CEO da Angola Cables no Brasil, em palestra no Fórum Brasil África, evento que aconteceu na última semana em São Paulo.


Até o momento, a empresa já investiu US$ 300 milhões em três sistemas. A integração em Fortaleza representa cerca de um terço dos investimentos. O Data Center irá funcionar em área de 9 mil metros quadrados (m²) na Praia do Futuro e deverá gerar 40 empregos diretos e mais de 800 indiretos somente na primeira fase. Para iniciar uma segunda etapa de obras, a empresa terá de investir ainda mais na Capital.


Hoje, o centro de dados interliga os sistemas: ACS (Atlantic Cable System) que conecta costa oeste da Europa e África, SACS (South Atlantic Cables System) que faz a ponte entre Luanda e Fortaleza e o Monet, que opera na rota Miami (EUA)-Fortaleza-Santos (SP). Com 6 mil quilômetros de extensão, o SACS está em obras desde 2016 e passa a ser o primeiro conjunto de cabos submarinos a cruzar o oceano Atlântico. Em entrevista exclusiva ao O POVO, Pistono dá detalhes da operação.


O POVO - A previsão de conclusão do Data Center na Praia do Futuro continua para 2018?

Rafael Pistono - A estação do SACS e o Data Center são integrados. A primeira fase do Data Center e o SACS estão prontos em abril. O Monet, que é o sistema Miami-Fortaleza-Santos, vai estar pronto agora no fim do ano. São duas estações interligadas. Tenho hoje um Data Center que está 70% consumido na primeira fase. Já está vendido 70%. A gente já está estudando avançar para a segunda fase, que seria apenas em outro momento. Mas já queremos avançar, porque fazemos conforme a demanda. Há uma carência grande de Data Center no mundo. Dos 500 mil Data Centers no mundo, 40% estão nos Estados Unidos, 30% na Europa, América Latina só 4%. E, no Brasil, 90% deles estão no Sudeste.

OP - Que empresas e institutos já fecharam negócio com a Angola Cables para usar o Data Center em Fortaleza?

Rafael - A gente não costuma abrir quem são os clientes, por uma questão ética. Mas o que já foi divulgado é que a gente já fechou com grandes provedores de Internet do Nordeste, como Wirelink, Tely. Esses provedores vêm crescendo mais na Região e levam Internet para os pequenos provedores e para o consumidor final. O que o Data Center faz é potencializar a capacidade dos cabos submarinos.

OP - Como está acontecendo a montagem desse sistema?

Rafael - A gente lança o cabo no oceano. Joga o cabo. Logicamente, antes é feita uma pesquisa e você sabe exatamente onde vai lançar. Não tem grande complexidade. Muitas pessoas imaginam que vai enterrando tudo. Eu só passo a enterrar quando vou chegando na costa brasileira, dada a necessidade de proteção, porque tem animais, fundeio dos navios, âncora e movimentação. Em águas internacionais, não tem movimentação. Quando começa a chegar na plataforma, você tem necessidade de proteger o cabo. Começa a engrossar o cabo com proteções e também a enterrá-lo.

OP - Quantas empresas estimam que devem fazer uso do Data Center de Fortaleza?

Rafael - No fundo, a gente está falando de capacidade do cabo, sob várias formas, seja de circuito, trânsito. O fato é que uma empresa pode comprar tudo, o que não deve acontecer. No Monet, temos dois pares de fibra de 12TB (terabytes) cada um, e no SACS são quatro pares de 12TB. É muita capacidade, mas o Data Center é neutro, não é feito só para os cabos da Angola Cables. Todas as empresas que queiram fazer uso dele podem chegar.

OP - Empresas de telefonia têm procurado vocês?

Rafael - Temos conversado numa perspectiva de fazer parcerias. Temos nossas estruturas e eles têm as deles. Chego em determinados locais com rota nova e eles têm uma antiga que já movimentam. É claro que eles precisam de capacidade. Quanto mais cabos tiver, melhor.

OP - Qual o prognóstico para o setor, nos próximos anos, para o Nordeste?

Rafael - A gente está muito contente com a receptividade. Participamos da FutureCom, evento de telecomunicações que acontece no Brasil, e fizemos ali o lançamento do Monet. Fizemos uma venda muito grande na própria feira, o que abriu portas para a gente já pensar em novos projetos, em se expandir no Norte-Nordeste a partir de Fortaleza. Estamos avaliando agora de que forma ocorre essa expansão, como vai se dar, que resultados isso vai trazer para essa estrutura que já é uma realidade. A perspectiva é de transformar essa rede em uma rede global de networking.

OP - O senhor disse que Angola Cables vai se desenvolver no Nordeste. Por que a escolha da Região e de Fortaleza?

Rafael - É uma reunião de fatores. A questão geográfica é muito importante. A maioria dos cabos do Brasil chega em Fortaleza. Se você olhar, Fortaleza é quase que equidistante da Europa, dos Estados Unidos, do Sudeste e agora da África. Também há uma carência grande naquela região. Hoje tudo é muito concentrado no Sudeste. Norte-Nordeste é muito dependente do Sudeste que, por outro lado, vai buscar conteúdo nos Estados Unidos e na Europa. Na medida em que você cria uma alternativa, o Sudeste passa a buscar esse conteúdo no Nordeste. Encurta a distância. Você começa a ter uma capacidade maior de transporte, em uma velocidade melhor. A Angola Cables fez e faz isso na África. Então, o Nordeste, para ela, é muito familiar. Ela vem com essa missão, porque aqui encontro um solo fértil. Não entro no embate do Sudeste. A gente teve um apoio muito importante dos governos, do Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza. Foram grandes incentivadores. A Angola Cables é pioneira no parque tecnológico de Fortaleza.

OP - Quais os desafios do setor no momento?

Rafael - Há uma discussão do marco regulatório. As empresas se veem obrigadas a atender uma legislação ultrapassada que não atende a necessidade do consumidor e da própria sociedade. Questões dos orelhões, por exemplo, elas ainda têm essa obrigação de ter orelhão. Não tem sentido. Aplicam-se multas a essas empresas. O que o governo fez foi, por meio da política nova, um incentivo para o desenvolvimento de Data Center e da banda larga no Brasil. Incentivo fiscal, mas isso ainda depende do Congresso Nacional. Essa é a grande dificuldade que todo mundo enxerga no País.

 

Isabel Filgueiras

CORRESPONDENTE O POVO EM SÃO PAULO

isabelfilgueiras@opovo.com.br

 

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