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O sonho de financiar fica mais distante
Economia

O sonho de financiar fica mais distante

Para quem passa em faculdade particular e não tem recursos para pagar a mensalidade do curso de Medicina, financiá-lo por meio do Fies não é mais uma opção palpável
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Beatriz Cavalcante

beatrizcavalcante@opovo.com.br
[SAIBAMAIS]

A cearense Ana Carla Mesquita, 20, alcançou o sonho de passar em Medicina. A faculdade particular fica em Parnaíba (PI). Mas, assim como tantos outros, ela tenta aliviar o peso da mensalidade do curso, que chega a ultrapassar os R$ 7 mil, por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Acontece que acessar o aporte está mais difícil, principalmente porque o Ministério da Educação (MEC) anunciou diminuição do teto de financiamento do Fies, passando de R$ 7 mil para R$ 5 mil a mensalidade, ou de R$ 42 mil para R$ 30 mil o semestre.


No caso de Ana Carla, ela diz que das 80 vagas para o curso, a faculdade só oferece oito para alunos com Fies e sem cobrir 100%. “Sorte que meu pai disse que paga se eu não conseguir. Mas tem muita gente que não pode e só vai cursar quem conseguir pagar”, diz.


A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, não oferta Fies para Medicina. Segundo nota enviada pela instituição ao O POVO, isso acontece porque os cursos com financiamento são aqueles com vagas remanescentes. “Medicina é muito concorrido e não possuímos vagas remanescentes”.


Sobre a nova portaria divulgada pelo Ministério da Educação, a Unifor informa que não é afetada. “Todos os nossos cursos com vagas para o Fies estão abaixo do teto de R$ 5 mil estabelecido pelo Governo Federal”.


Tathyana Pinheiro, 25, formanda em medicina na Unifor, fez o curso com 100% de aporte do Fies. “Minha turma, de 58 alunos, 50 tinham 100%, outros cinco não tinham 100% por opção e o restante pagava a mensalidade. Ou seja, na época, quem passava em Medicina, cursava. Hoje, só quem paga e, em sua maioria, esses não são os primeiros colocados”, diz. Ela afirma que a consequência é que a instituição tem de chamar mais candidatos para poder preencher as vagas.


Fernanda Denardin, diretora acadêmica-administrativa da Faculdade Farias Brito (FFB), diz que 30% dos alunos da instituição possuem Fies, mas que não ofertam financiamento para cursos que ultrapassam o teto de R$ 5 mil estabelecido pelo MEC.


“Acredito que, em geral, em todo o Ceará, o único curso que ultrapassa o teto é o curso de Medicina. Entretanto, dependendo da modalidade da instituição o aluno poderia diminuir a quantidade de créditos a cursar, para alcançar esse valor ou efetivar o pagamento da diferença”, diz.


Como é raro uma família que consiga arcar com o valor das mensalidades de Medicina, Fernanda afirma que é lamentável o Fies não ter uma política específica para o curso.


“A quantidade de vagas é muito baixa e a dificuldade de acesso ainda maior. Isso é ruim para um País que já detectou a necessidade de formar mais médicos. Essa nova medida pode afetar ainda mais esse grupo de alunos, que deveria ser considerado prioritário pelo Governo, demonstrando a necessidade de revisar as políticas públicas de acesso ao ensino superior na Medicina”.

 

Saiba mais


Pode se inscrever no Fies do 1º semestre de 2017 o estudante com renda familiar mensal bruta, por pessoa, de até três salários mínimos, que tenha participado do Enem a partir de 2010 e obtido nota mínima de 450 pontos e nota na redação superior a zero.


O Fies tem taxa de juros de 6,5% ao ano. Durante o curso, o estudante paga, a cada três meses, até R$ 150, referente aos juros incidentes sobre o financiamento.

 

Após conclusão, o estudante terá 18 meses de carência para começar a pagar o financiamento. Nesse período, deve continuar pagando, a cada três meses, até R$ 150 referente aos juros.


 


Encerrado o período de carência, o financiamento pode ser pago em até três vezes o período financiado do curso. As inscrições para o 1º semestre vão até 10 de fevereiro.


 


Medicina é um dos cursos mais concorridos. Na UFC, por exemplo, das 140.849 inscrições recebidas, 5.143 foram para Medicina, gerando concorrência de 32 candidatos para cada uma das 160 vagas disponíveis.

 

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