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"Quero mais homens de negócios", diz Maia Júnior sobre secretariado
Economia

"Quero mais homens de negócios", diz Maia Júnior sobre secretariado

Maia Júnior chega à Seplag com agenda liberal. Para tocá-la, promete articular envolvimento do secretariado
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Jocélio Leal

leal@opovo.com.br


Nathália Bernardo

nathaliab@opovo.com.br 

 

Ele significa algo como uma rendição. Atado por uma agenda de crises e paliativos desde o nascedouro, o Governo Camilo Santana (ainda PT) se rendeu à necessidade de um secretário com a missão de revolucionar a gestão. Após idas e vindas, todas no setor privado, a decisão do governador foi mista. Tem perfil de mercado, mas DNA partidário. Um empresário tucano, ligado ao senador Tasso Jereissati (PSDB). A escolha de Camilo procura por a máquina para andar e ainda abre canal em Brasília.


Escolhido para comandar a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), o ex-vice-governador Francisco Queiroz Maia Júnior abre sem cerimônia uma agenda liberal. Promete agregar uma visão mais empresarial. “Eu quero secretários mais transversais e mais homens de negócios, isso é o que vai fazer o Estado ser melhor”.


Entre as missões que tem pela frente, está comandar o processo de concessões de ativos do Estado e resolver o rombo na Previdência, que terá um fundo criado com recursos das concessões. Também promete a implantação de um sistema de gestão por desempenho no serviço público, com metas e gratificações. “O servidor precisa entender que seu salário só cresce com crescimento da produtividade e da economia”. A medida integrará, conforme conta, um conjunto de ações para controle do orçamento. “O grande esforço é encaixar esses custos e tentar melhorar a receita”. Ele recebeu O POVO por 90 minutos em seu escritório no Pátio Dom Luís. Na sala ao lado, iria conversar em seguida com um economista convidado para o time.

 

OP – Como já publicado pelo O POVO, não é de hoje que seu nome é sondado para a Seplag. O que fez o senhor aceitar?

Maia Júnior - As sondagens começaram por três pessoas. O Eudoro Santana (pai do governador Camilo Santana e presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza), Geraldo Luciano (vice-presidente do Grupo M. Dias Branco), com quem eu tinha um compromisso profissional, e o Raimundo Padilha, que foi presidente da Bolsa (de Valores Regional). Depois, essas sondagens começaram a se transformar em convites. Esses convites, inicialmente, foram negados. Eu tinha uma proposta de ajudar, mas sem cargo. Terminou com o governador entrando em cena e tivemos três reuniões, que fizeram com que eu cedesse. O tempo em que fiquei no Governo me ensinou que, para nós, cearenses, o Ceará tem que estar em primeiro lugar. Meus projetos pessoais ficaram em segundo plano.

 

OP - Apesar de ser uma escolha profissional, o senhor é um tucano em um governo petista. Quando o senhor foi vice-governador e secretário do Planejamento no Governo de Lúcio Alcântara, a Secretaria acumulava um pouco das funções da Casa Civil, o que não é o caso agora. Como fica, neste cenário, a sua liberdade de atuação?

Maia Júnior – Eu sempre coloco essa questão ideológica em segundo lugar. Porque quando você vai servir alguém, você vai ter uma diretriz. Eu servi a governos do PT, mas a memória dos petistas é curta. Eu servi ao Governo da Maria Luiza Fontenele (prefeita de Fortaleza pelo PT de 1986 a 1989), com bastante intensidade. Não aceitei cargo exatamente para não ter que dar explicação a ninguém, mas fui muito envolvido. Em momento nenhum, tive dificuldade. Pelo contrário, até porque comunista também já fui. Agora chega uma hora que a gente amadurece. Hoje, a minha visão sobre essas questões ideológicas é fazer o bem, o que é certo, o que é bom para o Estado. As decisões, normalmente, são políticas, mas a base é técnica. Ao definir o papel, o governador queria uma pessoa que viesse comandar essas ações públicas. Eu coloquei claramente que eu precisava do apoio dele. Eu não venho mandar em secretários, venho articular e unir para que a gente possa fazer melhor. Esse é o meu maior desafio. Sem apoio é difícil fazer isso.

 

OP - A sua entrada no Governo, ainda que seja sustentada como uma escolha profissional e não política, representa um canal do senador Tasso Jereissati, do PSDB, dentro do Governo Camilo. Qual é o sentido político da sua ida para a Seplag?

Maia Júnior - Eu vou deixar que o ambiente faça essa avaliação. A minha avaliação é que o convite foi técnico. Quem está indo é um quadro que é do PSDB e não vai negar que é do PSDB, mas quem tá indo é o profissional Maia Júnior. Não tenho como negar minha história. O Ceará inteiro sabe da minha história de respeito e amizade com o senador Tasso. Mas eu não tenho cargo no partido e não vou, por questões éticas, militar politicamente nem para o Governo Camilo, nem para o PSDB.

 

OP - O Governo Camilo até agora se notabilizou por não ter um braço político. Agora, ele monta uma Casa Civil, que, pelo que está desenhado, vai ter esse papel. Ao mesmo tempo, entrega à Seplag a missão de ser uma gerenciadora. Em que medida o senhor acredita que, em dois anos, é possível deixar um marca?

Maia Júnior - Na politica, eu acredito que até o Camilo tem criado uma marca. Ele passa que é uma pessoa elegante e educada, que circula bem em todos os meios, é admirado pela capacidade de diálogo, bom nível de articulação política. Ele tem uma qualidade que é ouvir bastante. Isso é bom para a política.

 

OP – O Ceará, assim como a União, está em processo de ajuste fiscal. Qual a situação orçamentária do Estado?

Maia Júnior - O que está acontecendo nos últimos anos é que a receita tem uma taxa de crescimento, por conta da crise econômica, inferior ao crescimento dos custos. O Ceará tem que botar o tamanho dos custos no tamanho da receita. Tem um outro ponto importante que é o serviço da dívida, amortização e juros, a gente tem que avaliar. A situação do Estado do ponto de vista de dívida é boa no aspecto da margem para se endividar. O problema é que a receita está caindo. A maior parte da dívida é atrelada ao câmbio e está crescendo, assim como cresce o desembolso. O Estado está honrando, agora a gente tem que avaliar se a gente pode neutralizar esse fluxo de pagamento, assim como precisa dar estabilidade às despesas correntes. Se você perde investimentos, quem mais perde é a população. O grande esforço é encaixar os custos e tentar melhorar a receita para mirar em duas coisas: elevar o máximo possível o investimento com receita própria e ser mais agressivo na atração de investimentos.

 

OP – Como ser mais agressivo na atração de investimentos?

Maia Júnior - Eu pretendo contribuir e mostrar aos secretários que o foco é voltar as ações sempre para fortalecer o emprego, a economia. É preciso que os secretários entendam o seu papel especifico, temático, mas também sua contribuição transversal com a questão econômica. Eu quero que eles pensem em negócios, identifiquem onde o Estado precisa trazer parceiros dentro das suas áreas. É muito importante que eles enxerguem a necessidade de não estarem mobilizados apenas na gestão das suas secretarias. Eu quero secretários mais transversais e mais homens de negócios. Isso é o que vai fazer o Estado ser melhor. As primeiras perguntas que vou fazer às equipes econômicas do Estado são: vocês querem fazer o quê? Vender para quem? Criar condições para competir com quem?

 

OP - O Governo tem três órgãos na prospecção de investimentos. Eles não são uníssonos?

Maia Júnior - A gente pode ter até 100 órgãos, desde que tenham um único motivo, que falem a mesma linguagem. Hoje não falam. Esse é um desafio meu: fazer o Governo falar a mesma linguagem, focar no que é prioritário e no que pode dar resultado.

 

OP - O senhor fala com vigor de início de Governo. Mas este mandato só tem dois anos para ser concluído. Como dar resultado em curto prazo?

Maia Júnior - O tempo é curto, a gente precisa já apresentar alguns resultados. Precisamos mudar a agenda do Governo agora e vender a agenda que foi feita. O que eu vou pedir é que saia do papel tudo aquilo que alguém botou nesses últimos dez anos. Agora, é para acontecer. Vou focar o meu trabalho naquilo que possa ter, em dois anos, começo, meio e fim.

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OP- O senhor já leu o projeto das concessões do Governo Camilo. Mudaria alguma coisa nele?

Maia Júnior - O que tem agora são os planos de negócios. Tenho que avaliar os contratos, se é que foram feitos e preciso ter os preços de espelho. O Estado tem que saber os preços e ter mais de um para garantir concessões bem feitas. Vamos tentar tocar isso celeremente. Esse ano, quero botar a coisa na rua, fazer leilão.

 

OP - O Ceará vem beirando o limite de gastos com servidores. A folha de pagamento é crescente, tanto por número de servidores quanto por reajustes. Como equacionar isso?

Maia Júnior - A situação fiscal hoje é adversa. Estamos em recessão e isso exige esforços de muitas áreas, pessoal é uma delas. O ideal é todos os anos a gente estudar não só prêmios, mas realinhamentos de ganho pela produtividade do Estado. O servidor precisa entender que seu salário só cresce com crescimento da produtividade e da economia. Vou focar muito no aumento da produtividade do servidor. Temos alguns resultados de sucesso, como no caso da Polícia, que vem melhorando os indicadores. Não podemos deixar em hipótese que o Ceará leve seus servidores à humilhação que foi
feita no Rio de Janeiro. Salário não se atrasa.


OP - O governador se comprometeu a dar reajuste aos servidores, mas a mensagem ainda não foi enviada à Assembleia. Isso deve se manter?

Maia Júnior - A minha obrigação é que os compromissos do governador sejam cumpridos.

 

OP- E como resolver a questão da Previdência?

Maia Júnior - Os recursos obtidos com as concessões de ativos do Governo do Estado serão destinados à Previdência Estadual. O buraco é de mais de R$ 1 bilhão (por ano). O Estado precisa cuidar da sua Previdência de uma forma muito estrutural, muito profissional. Isso é um prognóstico atuarial futuro enorme, de uma dimensão muito grande.

 

OP – A Coelce foi vendida para isso em 1998, no Governo Tasso, com o senhor participando do processo enquanto secretário. O senhor faria uma autocrítica?

Maia Júnior - Faria. Tinha uma boa intenção, mas foi mal avaliado. Quando se foi ver, o ativo vendido, R$ 1,1 bi a preços da época, era insuficiente para suprir a diferença da Previdência em um ano. E eu não estou olhando um ano. Para um ano, o Estado está conseguindo botar essa diferença.

 

OP - O senhor reconhece que foi um erro atuarial grosseiro? Como garantir que não se repetirá?

Maia Júnior - Foi um erro de avaliação. Aqui, a primeira coisa que vou fazer é ter a dimensão dos ativos. Por outro lado, a gente precisa ver, em nível muito mais aprofundado, a questão previdenciária. Isso é uma bomba relógio. Se, por acaso, esse fundo tiver condição de atenuar isso, é melhor. Com isso, o Estado vai bloquear uma parte desse déficit.

 

OP - O Governo Camilo herdou obras não concluídas e problemáticas do Governo Cid Gomes, sobretudo o Acquario. Assim, o Ceará ainda deverá dar início a novas obras?

Maia Júnior - O objetivo do esforço fiscal é aumentar o nível de investimento. Acho que a gente tem que ter a melhor margem possível de investimento, para a sociedade. No serviço público, é preciso ver quais serviços posso melhorar se eu fizer um investimento. Mas qualquer investimento tem que comprovar que tem fontes para ser executado, prazos e custeio.

 

OP - O senhor já declarou que gostaria de ter sido prefeito de Fortaleza. Essa volta à vida pública pode significar voos mais altos?

Maia Júnior - Não, dentro dos dilemas que me levaram a ser resistente com essa decisão (de assumir cargo no Governo) foi que, no momento, eu não via aspiração. Contribuí muito na Prefeitura, fiquei muitos anos lá. Eu tive esse sonho e essa oportunidade (de se candidatar à Prefeitura). Em alguns momentos, ela bateu na minha mesa e devo confessar que fui frouxo, achei que não era a hora. Mas acho que isso tudo já passou. Agora, o que eu quero muito é contribuir com o Estado.

 

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Veja vídeo da entrevista com Maia Júnior

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Leia íntegra em: http://bit.ly/2jGxva5

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