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Transformação e caridade
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Transformação e caridade

Com 39 anos, Rose Silva reside há quatro em uma ocupação no bairro Aerolândia. Ela transformou a realidade difícil em vontade de ajudar o próximo
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Tipo Notícia

Basta chegar na Rua do Piloto, no bairro Aerolândia, e perguntar pela Rose, que todo mundo sabe onde mora. Ela é a líder comunitária do prédio Raio de Luz. O lugar é uma ocupação que abriga dezenas de famílias e foi para Rose Silva, 39, o começo do fim de mais de duas décadas morando na rua.

Há quatro anos no local, ela conta as dificuldades de ser uma mulher em situação de rua. E mais ainda, uma mãe. "Como mulher eu acho que é muito ruim qualquer mulher se aproximar do mundo da rua, a gente não sabe o dia que acontece alguma coisa, a gente pode partir e é difícil conviver com essas coisas. Quando você parte para deixar a vida da rua, tem que pedir ajuda a um psiquiatra, psicólogo. É uma batalha contra o bem e o mal, uma batalha contra você mesmo", diz.

Rose saiu de casa ainda na adolescência, com 12 anos, quando engravidou da primeira filha. Hoje tem seis. O pai e a mãe morreram também na juventude, ficando sem uma ajuda que tinha para os filhos. Mas foram os amigos que mais tarde assumiram esse papel.

Sentada em uma cama improvisada com um colchão grande, ela mostra como o lugar onde vive ainda é incipiente. Sair da rua é um grandioso passo, mas não é o suficiente. O quarto com pouca iluminação tem um banheiro e a cozinha tem um balcão de divisão que dá para uma pia. "Pode olhar em volta, eu não tenho nada, mas tudo isso é meu", diz como quem sabe da ousadia que foi chegar até ali.

Rose foi amparada pelo grupo da Assessoria Jurídica Popular Dom Aloísio Lorscheider, da Assembleia Legislativa, que mostrou para ela caminhos de acesso às políticas públicas de assistência e como conseguir atendimento psiquiátrico e psicológico. Para Rose, as políticas de emprego para a população de rua precisam ser mais eficientes. "Tem que dar uma oportunidade para essas pessoas. É muito sofrimento", lamenta.

Desempregada, ela de vez em quando ainda vende balas e doces no sinal e é uma aguerrida em conseguir melhorias para a comunidade dela. O pouco que tem é dividido, como outrora fizeram por ela.

Mensalmente, ela arregimenta fundos para conseguir oferecer um sopão na rua. Além disso, articula com pastorais de igrejas para que crianças da comunidade tenham acesso a atividades.

A líder comunitária também integra um canal no Youtube chamado Aerolândia Ordinária. Com apenas 151 visualizações em um vídeo feito por ela, Rose diz que o canal de humor é um incentivador para a autoestima das pessoas.

"A base de tudo tem que ter o amor, se não tiver o amor, não tem nada. A gente conquista com amor, a gente dá com amor, só assim a gente pode superar muitas coisas da rua. Eu me sinto muito bem na minha comunidade. A gente lá fora passa muita dificuldade, tem que batalhar", sorri.

 

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