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DONA SUSANA, 85 anos, começou a produzir renda aos sete anos (Foto: fotos Tatiana Fortes)
Foto: fotos Tatiana Fortes DONA SUSANA, 85 anos, começou a produzir renda aos sete anos

O Centro de Rendeiras Mirian Porto Mota fica à beira-mar, na praia do Iguape. Ao som das ondas e do tilintar dos bilros de madeira, conversamos com as rendeiras Susana Nery e Maria Cilene. O Centro tem 56 boxes para rendeiras da região, mas nem todos estão em funcionamento. Na entrada, é fácil encontrar algumas delas sentadas diante de almofadas produzindo. Os boxes fecharam porque algumas desistiram do ofício para trabalhar em outras áreas aumentar os ganhos.

Dona Susana, de 85 anos, conta orgulhosa que começou a produzir renda aos sete anos. Apesar da dificuldade em manter somente com a produção das rendas, ela diz que aprendeu a arte com a mãe desde criança, quando passou a gostar muito da atividade"Acho que é por vocação, destaca".

Quando mais jovem, trabalhou como merendeira em escolas para conseguir manter a casa. Em paralelo, fazia rendas para vender. "Tem que ter alguma outra coisa, porque só a renda não dá, é muito pouco para levar a vida da gente", explica. Mesmo mãos experientes como as de dona Susana levam bastante tempo para finalizar um peça. Para confeccionar uma blusa com mangas, a rendeira gasta, em média, um mês. Uma saia longa pode levar até três meses de dedicação.

Maria Cilene, de 58 anos, é mais uma das rendeiras que trabalham no Centro, mas se dedica a peças maiores. Suas colchas de cama e toalhas de mesa podem chegar a ter quatro metros de comprimento e levar um ano para serem terminadas. Além dela, uma de suas irmãs tem um boxe e faz peças no bilro, e outras duas são professoras durante o dia, mas fazem rendas à noite.

Para ela, as novas gerações não se interessam pelo ofício por não verem um bom retorno financeiro. "As meninas de hoje veem nosso fracasso, de chegar em casa e não conseguir levar dinheiro, então preferem estudar ou arranjar um outro trabalho", diz.

Segundo Maria, o movimento e vendas no Centro vêm caindo nos últimos cinco anos. Antes disso, existiam rotas de ônibus que levavam turistas até o local. Hoje, afirma que as rendeiras contam apenas com a ajuda dos bugueiros, que indicam o local e trazem visitantes.

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