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Moro, Greenwald e a democracia doente
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Moro, Greenwald e a democracia doente

Comissão do Senado (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Comissão do Senado

Nada justifica que, diante de uma denúncia grave, o braço da lei se vire contra aquele que a transmite por ofício. Responsável por revelar vazamentos entre Sergio Moro e procuradores da Lava Jato, o jornalista americano Glenn Greenwald vem sofrendo exatamente isso, com artilharias do Estado e da opinião pública voltadas para ele em uma batalha que parece menos compromissada com a verdade e mais com manter narrativas de "mocinhos" e "bandidos".

No Brasil ultrapolarizado, a impressão é de que os lados na batalha simbólica já estão escolhidos há anos, e nada que aconteça soa capaz de convencer ninguém de qualquer coisa que ofenda as "convicções" de sua claque. Até aí, tudo bem: o tribalismo ideológico, apesar de exacerbado desde o início da Lava Jato, está longe de ser novidade por aqui. Saquaremas e Luzias, udenistas e pesedistas, tassistas e juracistas. Coxinhas e petralhas.

O problema reside quando, não satisfeita em envenenar o ambiente político e destruir relações sociais (e até familiares, veja só), essa divisão ameaça avançar sobre direitos fundamentais - coisa conquistada por aqui sob muita luta e sangue. Nos últimos dias, o Brasil viu crescer pressão pela violação do direito (constitucional) do sigilo de fonte e até o surgimento de petições online que pedem a deportação de Greenwald. Coisas que, em qualquer democracia sadia, seriam impensáveis ou sinais claros de que algo não vai bem pelos corredores do poder.

No cerne da coisa está um debate que, "sequestrado" pelo acirramento, confunde quais os reais objetos de apuração em uma denúncia como a que é apresentada pelo The Intercept. Os "whistleblowers" (termo americano para os denunciantes de dados) não são criminosos, mas sim ferramentas valiosas. Até Moro e Dallagnol sabem disso, ampliando a proteção sobre esse tipo de denunciante nas propostas que defendem para mudança da legislação.

Greenwald e os outros repórteres do caso podem estar errados? Talvez. O juiz e os membros do MPF são inocentes? Pois que ataquem o mérito do que é divulgado e provem suas inocências. Mas deixem os jornalistas trabalhar.

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