Quando foi implantada, em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS) tinha como objetivo acabar com os lixões. Quase uma década depois, a realidade ainda persiste no Brasil. Mas há avanços significativos. À época, apenas 443 municípios faziam a coleta seletiva. Em 2018, o número saltou para 1.227, crescimento de 176%, segundo levantamento do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).

O número representa 17% da população atendida, mas expõe que ainda há um longo caminho pela frente. A coleta seletiva é fundamental para que o resíduo retorne ao ciclo produtivo. Sem esse reaproveitamento, ele é descartado em lixões e na natureza. O atraso do País ocorre em razão de gargalos como o transporte.

"A gente tem muita dificuldade com nosso próprio modal, somos um País que desenvolveu a malha logística basicamente em estradas. Imagina estabelecer logística reversa para algo que é produzido na zona franca de Manaus. Os desafios são enormes do ponto de vista do modelo logístico", diz Paulo Branco, coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Outra questão é o estímulo para as inovações nesse campo. "Isso é uma área de oportunidade incrível para os pequenos negócios. Melhorar a logística reversa, criar uma plataforma na internet para aproximar o gerador de resíduo ao que precisa utilizar no processo produtivo é algo importante que o Brasil deveria fazer. Estamos muito atrasados em relação aos países europeus, escandinavos, Estados Unidos", compara.

Albino Alvarez, técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reitera. "O grande desafio da reciclagem que acaba chegando à logística reversa é porque tem um problema grande do custo de transporte, tributação e a escala. E esse custo para fazer chegar lá torna o processo muitas vezes inviável economicamente. No Norte e Nordeste, o problema é mais sério ainda, justamente pela questão de escala e transporte", diz.