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A volta das ruas
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A volta das ruas

|Onda de protestos| Manifestações voltam a ocupar as ruas do País. Depois do ato dos estudantes dia 15, apoiadores de Bolsonaro prometem pressionar o Congresso a aprovar reformas
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 (Foto: Wilson Dias)
Foto: Wilson Dias

Das urnas para as ruas. Passados quase sete meses desde as eleições de 2018, os protestos voltam a ocupar as cidades, pró e contra as bandeiras do governo de Jair Messias Bolsonaro (PSL).

Pouco mais de uma semana depois da manifestação de estudantes e professores no dia 15, apoiadores do presidente se mobilizam. Se na primeira o combustível foi o contingenciamento orçamentário na educação, a promessa agora é de fazer avançar a agenda liberal que venceu a corrida presidencial e cuja viabilidade estaria ameaçada pelos partidos do "centrão".

Em Fortaleza, os eventos a favor de Bolsonaro têm início previsto para as 16 horas de hoje, com concentração na Praça Portugal. Uma das fundadoras do grupo Endireita Fortaleza, que ajuda a organizar a passeata, Sandra Cordeiro diz que não há dúvida sobre a pauta do movimento. "Não estamos dando apoio à pessoa do presidente, mas ao governo e às reformas", afirma.

Segundo ela, os aliados do militar reformado devem pressionar o Congresso "para destravar medidas como o pacote anticrime" do ministro Sergio Moro, a Medida Provisória 870 (já aprovada na Câmara), a mudança na Previdência e a CPI da "Lava Toga", que investigaria eventuais excessos de tribunais superiores.

Além disso, acrescenta Sandra, eles pretendem refrear posições "antirrepublicanas" de parlamentares do centrão. "As propostas do Bolsonaro estão enfrentando uma orquestração do centrão, o governo não está aceitando e está sofrendo esse boicote", avalia. "Vamos pressionar para que nossos representantes façam aquilo que a população quer." A coordenadora do grupo nega que o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) esteja entre as reivindicações.

Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Musse avalia que essa nova onda de protestos "flerta com um modo de colocar em xeque todo o sistema institucional".

Para o pesquisador, os dois atos anunciados - a União Nacional dos Estudantes lançou convocatória para 30/5 - são desdobramentos de manifestações cujo estopim remonta a 2013. "Há hoje uma disputa nas ruas", analisa. "Por enquanto, são manifestações estritas que vão permitir aferir a força de cada um dos grupos."

O docente observa, porém, que esse caldo pode transbordar. Caso isso aconteça, "podemos ter uma dinâmica que é mais perigosa". Musse menciona então o exemplo da Venezuela. "É um país onde esse processo se radicalizou e a política não prescinde mais das manifestações."

Leia mais nas páginas 14 e 15.

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