ENVOLTA EM MUITAS DÚVIDAS, a Venezuela firmou nos últimos dias ao menos uma certeza: a crise em que vive o país não se resolverá "de dentro". O fracasso da última investida pela derrubada de Nicolás Maduro, puxada na semana pelo líder opositor Juan Guaidó, mostrou para o mundo a importância fundamental de atores
externos no processo.
Sem a grande mobilização de massas ou apoio militar que anunciava momentos antes de iniciar o movimento de terça-feira, a oposição venezuelana é amparada hoje basicamente no apoio internacional. É uma situação curiosa: Guaidó é reconhecido por mais de 50 países, entre eles quase todas as democracias mais consolidadas do mundo, mas não tem forças nem aliados para tomar de fato esse poder.
Até agora, potências aliadas como Colômbia, Estados Unidos e até o Brasil rejeitam intervenções militares no país. Mesmo assim, o apoio ainda que apenas ideológico em escala global já garante que o movimento para derrubar Maduro irá continuar - o ponto de não retorno já foi cruzado há tempos. É nesse contexto de impasse que a posição dos atores internacionais ganha nova dimensão.
De um lado, a compra de petróleo venezuelano pela Rússia e assessoria de inteligência cubana garantem que Maduro continuará no poder. Do outro, os embargos e pressões americanas garantem que o país seguirá dividido.
Com gente tão grande puxando de ambos os lados, fica ainda mais clara a necessidade de uma transição democrática. Na Síria, país onde o interesse de americanos e russos também se sobrepôs em meio a um conflito interno, os estágios onde era possível uma saída pacífica foram por diversas vezes ignorados. Deu no que deu.