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"Ó quarta-feira ingrata (que tanto demorou a chegar...)"
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"Ó quarta-feira ingrata (que tanto demorou a chegar...)"

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Henrique Araújo
Jornalista do O POVO
henriquearaujo@opovo.com.br (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Henrique Araújo Jornalista do O POVO henriquearaujo@opovo.com.br

A esta altura, não se pode dizer que foi uma semana atípica para Jair Bolsonaro (PSL). Os últimos dias, no entanto, evidenciaram não apenas as fissuras no casco do governo, dividido em galeras cujos interesses são antagônicos, mas também a quase total inaptidão do presidente para conduzir esse Titanic chamado Brasil a bom porto. Aos solavancos, colidindo contra um iceberg dia sim e outro também, Bolsonaro dilapida seu capital político com uma sofreguidão adolescente. Ou amadora, como preferem aliados no Congresso. Quando o mundo político esperava que o chefe da nação colocasse panos quentes na polêmica da "chuva dourada" da Terça-feira Gorda, Bolsonaro saiu-se com uma declaração ainda mais perigosa: a uma plateia de militares, disse que a democracia e a liberdade dependiam da vontade das forças armadas. Ainda que debitada na conta da falta de intimidade com a língua portuguesa por parte do presidente, a frase pegou muito mal. Mas não ficou por aí. No 8 de Março, uma data de mobilizações em todo o País, o pesselista, a pretexto de homenageá-las, referiu-se às mulheres como "joia rara". Ora, segundo o IBGE, elas são maioria no eleitorado, nos bancos escolares e entre leitores. Há um lugar em especial, porém, onde de fato constituem uma raridade: na composição do Governo. Disso tudo resultam consequências graves que vão muito além do escárnio internacional, a exemplo da repercussão do episódio envolvendo o golden shower, expressão agora já plenamente aclimatada ao vernáculo nacional. As trapalhadas do presidente corroem apoio parlamentar e comprometem a agenda econômica do Planalto. E isso sobretudo porque este é um governo que não apenas fabrica suas próprias crises, mas também engorda seus inimigos íntimos. A situação é tal que a oposição, como se se sentisse dispensada do papel que lhe cabe, viu-se à vontade para embarcar nessa patacoada chamada "Zé de Abreu". Então é neste pé que estamos: enquanto o presidente (não o autoproclamado) mete-se em fanfarronices virtuais e querelas morais sem importância nenhuma, a esquerda infantiliza a política, rebaixando-a ao nível de Carlos, Eduardo e Flávio, a trupe filial. De um lado e do outro, parece não haver escapatória.

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