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Forças disputam rumos do Governo
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Forças disputam rumos do Governo

|Bolsonaro| Grupos que dão sustentação ao governo de Jair Bolsonaro disputam controle da agenda do Planalto. Até agora, a ala liberal tem levado a melhor, dizem especialistas
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Decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, que extingue 21 mil cargos foi elaborado pelo Ministério da Economia. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil) (Foto: (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil))
Foto: (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil) Decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, que extingue 21 mil cargos foi elaborado pelo Ministério da Economia. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Henrique Araújo

henriquearaujo@opovo.com.br

Se o Governo Federal fosse um continente como Westeros, da série de fantasia Game of Thrones, estaria dividido em cinco reinos: o dos militares, sob a figura do general Mourão; o dos liberais, capitaneados pela mão de ferro de Paulo Guedes; os "lavajatistas", chefiados pelo austero Sergio Moro; os evangélicos, à frente de quem está Damares Alves; e, finalmente, os "olavistas", ala mais estridente, liderada por Ernesto Araújo.

No centro desse pentágono, está o presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL), a quem cabe a missão de pacificar os diversos interesses que estão na base da nova gestão, nem sempre convergentes, e que lhe dão sustentação como o mandatário desse reino fictício.

É o caso de militares e evangélicos, cujas bandeiras frequentemente estão em desacordo. Exemplo disso foi a celeuma em torno de declaração recente de Mourão sobre o direito ao aborto.

Em entrevista ao "O Globo", o vice afirmou que a mulher deve decidir sobre o assunto, contrariando os religiosos.

A resposta criou mal-estar com o grupo evangélico, principalmente entre parlamentares, que logo fizeram chegar ao vice que a legalização do aborto não chegaria ao Congresso.

A exemplo dessa refrega, há outras. Pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), o sociólogo e membro do Conselho de Leitores do O POVO Cleyton Monte afirma que essas fissuras serão recorrentes nos próximos quatro anos.

"Existe uma heterogeneidade muito grande de grupos de apoio ao governo, desde aquele autoritário que chama o Bolsonaro de 'mito', até o antipetista que viu no Bolsonaro a possibilidade de tirar o PT do governo", avalia Monte. Para ele, a grande pergunta é: qual dessas forças políticas deve preponderar no governo?

Essa resposta começou a ser dada nesta semana, com a mensagem do Planalto ao Congresso. "A prioridade é a pauta econômica, apesar de o governo dizer que está estudando a pauta dos costumes", responde o pesquisador. "(Os ministros) vão centrar na reforma da Previdência. Se não aproveitarem este primeiro semestre de lua de mel, terão dificuldade para aprovar depois."

Sociólogo da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas concorda. "A agenda que dá estabilidade ao governo neste momento é a econômica, do Guedes (ministro da Economia), que, por sua vez, é também a que mais mexe com interesses dentro do próprio governo, como os militares", avalia.

Segundo ele, a pauta conservadora permanece, no entanto, mas como um pano de fundo, acionada a cada declaração de ministros como Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo Vélez (Educação), representantes de um campo ideológico - a primeira é também pastora, enquanto os outros dois são indicações do ideólogo Olavo de Carvalho.

Leia mais nas páginas 12 e 13

Governo terá de acenar a evangélicos, diz especialista

Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e articulista do O POVO, Valmir Lopes afirma que há apenas três grupos capazes de exercer influência hoje sobre a agenda do governo Bolsonaro: o núcleo "familiar", representado pelos filhos-parlamentares do presidente, que também se confunde com a ala mais ideológica.

Além dele, destacam-se ainda um núcleo "técnico", do qual fazem parte Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia). E, finalmente, o núcleo militar, cuja personalidade pública é o general Mourão, vice-presidente da República.

Para o especialista, Moro e Guedes estão com a posse de bola neste início de gestão, no qual o governo precisa demonstrar capacidade de articulação para construir maiorias a fim de aprovar as reformas no Congresso.

"Ocorre que, no caso do Bolsonaro, há a particularidade de que uma parcela da base eleitoral dele, a parte mais ativa, tem se mobilizado em função desse tipo de perspectiva (conservadora)", ressalva. Segundo Lopes, "o presidente vai ter que acenar pra eles".

Do contrário, os conflitos entre essas alas não tardarão a se intensificar. "Em algum momento teremos atrito. A própria orientação ideológica do pessoal mais ligado ao Olavo de Carvalho sugere isso", projeta, referindo-se ao filosofo em cuja cartilha Bolsonaro se inspira.

De acordo com Cleyton Monte (UFC), porém, o Governo já começou a esboçar uma cara, e ela é a mistura de Moro e Guedes. "A Damares vai ter que dizer aos eleitores que não poder tocar essa agenda agora", acredita.

OLAVO

Filhos do presidente, Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro também são seguidores de Olavo de Carvalho, ideólogo que teria indicado dois dos ministros (Educação e Relações Exteriores)

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