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Moradores de Milagres, Brejo Santo e Serra Talhada vivem apreensão e lamento
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Moradores de Milagres, Brejo Santo e Serra Talhada vivem apreensão e lamento

| Ação desastrada |Polícia recolhe imagens de câmeras da cena do crime
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A Polícia Militar recolheu gravações feitas pelas câmeras de segurança em três pontos no centro de Milagres (a 492 km de Fortaleza), afirmam moradores da cidade, localizada na região do Cariri. Lá, 14 pessoas foram mortas (seis reféns e oito criminosos) durante tentativa de assalto a duas agências bancárias na madrugada de sexta-feira, 7.

[SAIBAMAIS]

Segundo comerciantes que trabalham nas proximidades da rua Padre Misael Gomes, palco dos assassinatos, as imagens dos equipamentos foram captadas e levadas para serem periciadas ainda na manhã de sexta-feira. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não confirma a informação.

Irmão do prefeito da cidade, o empresário Laécio Macedo conta que, às 6h30min da manhã daquele dia, poucas horas depois das mortes, um policial solicitou o registro das gravações do comércio que ele mantém no centro. "Foi muito cedo, nem deu tempo de ver as imagens", contou ao O POVO ontem.

Localizado ao lado da sede da Prefeitura, o estabelecimento fica exatamente em frente ao cruzamento onde policiais e criminosos teriam trocado tiros na madrugada.

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Ainda mais perto da esquina, as câmeras de uma farmácia registraram toda a ação, segundo o proprietário, que não quis se identificar. De acordo com ele, a Polícia apreendeu as imagens ao meio-dia de ontem.

 

Questionados se os policiais que requisitaram os registros apresentaram algum tipo de documento oficial pedindo a cessão das imagens, os dois empresários disseram que não.

 

Procurada ontem, a Delegacia de Brejo Santo, responsável por parte das investigações dos crimes, não comentou sobre o episódio.

 

Uma das moradoras do centro da cidade, a professora Jacinta Patrício, 39, ainda se lembra das horas de terror que viveu em Milagres. Na sua residência, a menos de 50 metros da agência do Bradesco, dois de cinco disparos atingiram o registro de energia, deixando a casa às escuras até o meio-dia de sábado. Outro derrubou parte do reboco da janela perto da qual o filho de oito anos dormia numa rede. Os demais se concentraram no muro.

 

"Foi uma agonia interminável", afirma Jacinta, que se recorda de ter ouvido os gritos de uma mulher na rua dizendo "Meus Deus!". Os tiros, porém, não teriam se interrompido. "Era a refém que morreu ali na esquina", acredita. A professora refere-se à cearense Francisca Edneide da Cruz Santos, 49, tomada pelos assaltantes num bloqueio na estrada enquanto, após desembarcar no aeroporto de Juazeiro do Norte, rumava para Brejo Santo de carro com o pai e o irmão e foi assassinada em meio à operação policial.

Comerciante, uma mulher que preferiu manter-se em anonimato confirmou os relatos de Jacinta. Dona de uma lanchonete próxima ao local, ela teve uma televisão perfurada depois que a bala atravessou o portão de ferro da loja. "Eu tinha comprado pra ver os jogos da Copa do Mundo. Custou R$ 1,5 mil", descreve. Para ela, todavia, o risco maior é o temor.

 

No fim da tarde de ontem, menos de 48 horas após a tragédia que sacudiu Milagres e fez os moradores permanecerem em casa durante quase toda a sexta-feira, uma parte das pessoas tentava retomar a vida. Aos poucos, foram recolocando as cadeiras na calçada e reabrindo comércios. O medo, no entanto, ainda predominava.

 

"Estamos aqui na calçada, mas não esquecemos de nada ainda", afirma o aposentado Nelson Flor, 72 anos, antes de apontar com o dedo uma das marcas de bala deixadas no muro da vizinha. "Isso ainda custa a passar", finalizou.

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