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Extinção do MinC. Os valores da cultura
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Extinção do MinC. Os valores da cultura

|EXTINÇÃO DO MinC | A incorporação da Cultura ao Ministério da Cidadania, proposta pelo governo Bolsonaro, desperta a preocupação com as políticas públicas para o setor e provoca a atenção para os valores da cultura no Brasil
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Na história do Brasil, de tempos em tempos ou de governos em governos, a Cultura escreve ao poder público e à sociedade civil: manda notícias de como tem passado pelas crises econômicas e manda lembranças dos valores que possui. Ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que anunciou a incorporação da Cultura ao Ministério da Cidadania - junto com Desenvolvimento Social e Esporte -, o setor escreve sobre a necessidade de integridade e fortalecimento do Ministério da Cultura (MinC).

[SAIBAMAIS]

A extinção do MinC desperta a preocupação com as políticas públicas específicas. Na carta aberta "Fica, MinC! Em defesa da permanência do Ministério da Cultura", divulgada no último dia 3, representantes de 23 estados e do Distrito Federal se manifestam sobre a importância do MinC "como um órgão próprio e exclusivo para a gestão e a execução das políticas culturais, em parceria com os estados e municípios e com a sociedade civil". A carta foi elaborada pelo Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes de Cultura dos Estados e pelo Fórum Nacional dos Secretários e Gestores da Cultura das Capitais e Municípios Associados.

 

O documento destaca dados que mexem no "bolso" do País: "No Brasil, o setor cultural gera 2,7% do PIB e mais de um milhão de empregos diretos, englobando as mais de 200 mil empresas e instituições públicas e privadas. 

 

São números superiores a muitos outros setores tradicionais da economia nacional. E a tendência é de contínuo crescimento".

 

Por estes e outros valores - mais humanos e sociais -, gestores e agentes da área alertam para os prejuízos que podem ser causados quando a política cultural perde força. Para o secretário da Cultura do Estado do Ceará e presidente do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes de Cultura dos Estados, Fabiano dos Santos Piúba, a política cultural cumpre um papel de transversalidade capaz de unir significados em um bem maior. "Dizemos que educação sem cultura é só ensino, que segurança pública sem cultura é só repressão", explica.

 

Mesmo que a compreensão de cultura seja a da complexidade de um mundo de saberes e de fazeres, é também possível entender as políticas culturais como caminhos até o mercado de trabalho. E além: como pontes entre distâncias históricas e humanas.

 

"Temos um país que tem uma cultura diversa, riquíssima, mas que traduz também o que é um país conservador. Essa cultura é conservadora em muitos aspectos", contrapõe Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar. "Temos uma massa de pessoas que vêm, desde a escravidão, sendo tratadas como forma desumana, e a cultura também faz isso", relaciona. O Brasil ainda não realizou uma "democracia cultural", aponta.

 

"No Ceará, você tem 700 mil jovens que não estudam nem trabalham... Não foram incorporados nessa civilização cultural, que envolve turismo, cultura, arte e que precisa de gente jovem, criativa, com talento. O tráfico tem mais capacidade de recrutar essas pessoas do que a economia formal e o estado", atenta Paulo Linhares.

 

As escolas criativas locais, ele cita, têm cerca de 30 mil matrículas por ano. "É pouco. Temos que ter 150 mil jovens aprendendo", contrapõe ao considerar os espaços de formação como possibilidades de sonhos e de trabalho - assim, de futuro. "Nós, da cultura, somos responsáveis por essas soluções, esses desafios", escreve aos tempos atuais.

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