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As marcas de Temer como gestor de um País em ebulição
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As marcas de Temer como gestor de um País em ebulição

| Balanço | Após pouco mais de dois anos e meio, o mandato do emedebista possui mais aspectos negativos do que positivos, segundo especialistas de diversas áreas
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Faltando pouco menos de um mês para entregar a faixa presidencial, Michel Temer deixa mais marcas negativas do que positivas no curto período de tempo em que ocupou o Palácio do Planalto. "O governo Temer chega para consertar uma situação que se considerava ruim ou intolerável. Por causa do grau de corrupção, da inaptidão da presidente Dilma na construção de consensos e de políticas públicas para o Brasil e por causa de uma espécie de correção de rumos. (...) Nenhuma dessas três conseguiu ter sucesso", resume o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, Aninho Irachande Mucundramo.

 

O pesquisador argumenta que, quanto ao combate à corrupção, "basta dizer que quem assumiu pertence ao partido que tem os maiores problemas de corrupção historicamente". Para Mucundramo, houve sim um alinhamento do Executivo com o Congresso Nacional, contudo "esse alinhamento rapidamente perdeu o rumo, que era encontrar alternativas para crescimento do Brasil, para servir para acobertar as diversas denúncias que chegavam contra o presidente da República". Durante a gestão, parlamentares arquivaram duas denúncias contra Michel Temer.

[SAIBAMAIS] 

Aliado a isso, o chefe do Executivo "tentou enfraquecer o Judiciário", complementa Mucundramo. "Foram muitas as tentativas para interferir na Justiça. Infelizmente, havia uma dinâmica própria tanto dos Tribunais como da Procuradoria (Geral da República), que (fez com que) o Executivo não concluísse seus intentos", afirma. "O fato que é que o Judiciário se fortalece muito porque a pauta de combate a corrupção ganhou vida própria, que se não fosse continuada mancharia muito mais o Judiciário do que os outros poderes".

 

Eleito como vice-presidente da chapa de Dilma Rousseff (PT), Temer não prossegue o programa estabelecido pela petista, aponta Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). "A agenda é completamente diferente do governo Dilma. (?) Eu não acredito que ele é uma continuidade", explica a pesquisadora, que também integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia.

 

Contudo, ela acredita que ainda é cedo para uma análise sobre o legado deixado pelo emedebista. "Quando a gente fala de um legado de um governo a gente tá falando de o quanto que ele alterou a lógica, que marcas que ele deixou que impactam nos processos conseguintes do governo", argumenta.

 

Entre as ações realizadas pelo governo Temer que não devem prosseguir durante a próxima gestão está a criação do Ministério da Segurança. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), já anunciou a extinção da pasta, que segundo o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência e professor titular da UFC, César Barreira, foi uma das poucas medidas positivas do atual presidente para a segurança, embora não tenha sido plenamente efetivada.

 

"A ideia poderia apontar para uma política correta de integração. Nós temos que ver que claramente algumas medidas que devem ser tomadas pela união (...) e nesse sentido o ministério da segurança poderia apontar para um avanço. Mas terminou não saindo do papel", critica. Para ele, o presidente "deixa uma marca negativa" para a área, sem "investimento (em) prevenção, inteligência e investigação".

 

Sobre os retrocessos, o pesquisador é categórico. "A ênfase da militarização, do peso das forças nacionais, nesse caso a ênfase no exército, e a intervenção do Rio, que foi desastrosa", enfatiza referindo-se a medida decretada por Michel Temer em fevereiro de 2018. "A intervenção do Rio de Janeiro hoje está provado que é um retrocesso. Não só no que diz respeito aos direitos humanos, mas inclusive (em) eficácia", acrescenta Barreira.

 

Os aspectos negativos do governo parecem refletir-se na popularidade como gestor. Em pesquisa divulgada na última quinta-feira, 13, o Ibope apontou que Temer encerra o mandato com pouca aprovação, o que ocorreu durante toda a gestão. O percentual dos que avaliam governo como ótimo ou bom tem se mantido praticamente inalterado desde julho de 2017, tendo agora 5% de aprovação.

 

Segundo Monalisa Soares, a baixa popularidade ocorre devido a um acúmulo de rejeição de ambos os lados. "Alguns setores do antipetismo continuam o identificando ainda como uma consequência do PT e parte dos setores que apoiavam o PT a crítica que ele teria embarcado no barco, nessa onda da deposição da Dilma", explica.

 

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