Bicicletas, bonecos e carrinhos têm perdido espaço para smartphones e tablets no cotidiano infantil. Nessa onda, o Youtube se tornou endereço certo quando o assunto é se divertir. O acesso facilitado a vídeos vem acompanhado de uma inquietação comum: quais as influências sobre as crianças?

Em dois anos, a quantidade de visualizações dos canais de vídeos voltados para crianças de até 12 anos dobrou no Brasil. Segundo o Media Lab, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em São Paulo, o número passou de 26 bilhões de visualizações, em 2015, para 52 bilhões, em 2017.

Para a psicóloga Renata Alves, que pesquisa sobre youtubers mirins, trata-se de um espaço com benefícios e riscos. Ente os aspectos positivos, ela destaca a mudança na forma de se compreender a infância. De "um ser passivo e em desenvolvimento", a criança agora é progressivamente compreendida como alguém que tem seus desejos e sua própria compreensão do mundo.

Ela pondera que vídeos abrindo brinquedos e mostrando o que fazer com eles, o chamado unboxing ("tirar da caixa", em inglês), fazem muito sucesso, mas são perigosos. "Esses conteúdos podem ser considerados um incentivo ao hiper-consumo. E há riscos relacionado a isso, como mudanças de comportamento, distúrbios alimentares e estresse familiar", analisa.

Jéssica Castro, pedagoga e pesquisadora do Laboratório de Pesquisas Multimeios da Universidade Federal do Ceará, enfatiza aspectos positivos relacionados ao ensino. "Os vídeos são uma linguagem mais próxima das crianças e adolescentes e podem tornar a educação mais democrática", avalia.

Existe ainda a possibilidade de "uma aprendizagem mais autônoma" uma vez que o estudante pode "chegar em casa e tirar dúvidas ou pesquisar o que interessa a ele por meio de vídeo-aulas". Segundo a pedagoga, essa autonomia é importante para o desenvolvimento das crianças. Por outro lado, Jéssica aponta um dos grandes riscos atuais do Youtube: os desafios perigosos para a integridade física e mental de crianças e adolescentes.

"Diversos canais existem somente para divulgar os desafios e eles têm muitos seguidores e visualizações. É preocupante porque não tem quem fiscalize", conta.

Neste cenário, a pedagoga é a favor de que não haja um controle, mas diálogo "para mostrar as potencialidades positivas e estimular a criticidade". Renata reforça que a presença dos pais é fundamental, afinal "são eles que vão guiar, construir significados e questionar o que está sendo visto".

PEDIATRAS 

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até 2 anos não sejam expostas aos aparelhos eletrônicos. Até os 5 anos, é ideal o limite de uma hora e meia de exposição diária.

Aprendendo na tela 

Os vídeos on-line podem ser educativos e colaborar para o desenvolvimento das crianças. Ensinando a se proteger dos perigos e procurando por canais próprios para cada idade, a infância pode ser conectada e saudável.

DICAS 

Navegando com segurança 

Especialistas ouvidos pelo O POVO dão algumas dicas para pais e responsáveis

1. Interagir. Sempre que possível, esteja perto. É uma boa oportunidade para se divertir junto e combinar regras.

2. Estabelecer regras. Negocie o tempo diário do acesso online.

3. Dialogar. Aconselhe que a criança busque a ajuda de um adulto caso algum conteúdo cause medo ou desconforto.

4. Buscar alternativas. Prefira o Youtube Kids. A plataforma reúne automaticamente conteúdos infantis, o que bloqueia boa parte do conteúdo impróprio.

5. Orientar. O ideal não é proibir ou bloquear, mas ensinar condutas seguras e estimular a criticidade desde cedo.

SUGESTÕES 

CONFIRA CANAIS PARA CADA FAIXA ETÁRIA 

Dos 3 aos 5 anos

Mundo Bita: criação autoral de um quarteto pernambucano, o canal promete aventuras divertidas e musicais pela natureza, o corpo humano e o espaço sideral.

Show da Luna: Luna tem 6 anos e é fascinada por ciências. Nada passa despercebido à curiosidade da menina, que vai até onde pode para encontrar respostas. Original do canal Discovery Kids, a animação brasileira também pode ser acessada pelo Youtube.

Dos 6 aos 9 anos

Ticolicos: bonecos coloridos e engraçados interagem com o mundo em busca de respostas para as mais diversas perguntas, que toda criança faz um dia. Por meio de redes sociais as crianças podem enviar suas dúvidas também.

Minuto da Terra: o que acha de aprender ciências por meio de animações que duram até 3 minutos? Dá para descobrir fatos inusitados sobre o planeta Terra e saber algumas curiosidades sobre os animais.

Dos 10 aos 12 anos

Manual do Mundo: experiências e curiosidades sobre como algumas coisas são produzidas e criadas, receitas e até dicas de mágicas são trazidas no canal.

Nerdologia: aulas descontraídas de ciências e história a partir das notícias que circulam o mundo e também do hype de lançamento de filmes e seriados.