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Muito além da política
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Muito além da política

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Na família do professor de português Mateus Costa, 25, a discussão que começou no grupo do Whatsapp está gerando afastamentos que talvez sejam definitivos. "Em outros anos também houve discussões, mas tudo era muito tranquilo para, acabadas as eleições, a gente voltar à uma convivência normal, e todo mundo estar se amando no Natal."

 

Antes do primeiro turno, quando havia mais de dois candidatos envolvidos na disputa à presidência, uma prima de Mateus postou vídeo contra um deles. Houve comentários reflexivos, em seguida uma tia postou vídeos contra outro presidenciável.

 

Ele explica que alguns dos vídeos postados pela tia tinham conteúdos homofóbicos, o que o fez sentir-se pessoalmente ofendido. "O fato de eu ser gay me dá um medo maior. E eu realmente não consigo acreditar que ela e outras pessoas apoiem a candidatura do Bolsonaro (que já exprimiu posicionamentos homofóbicos) apenas porque querem um modelo econômico diferente", afirma.

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Quando ele tentou conversar sobre o conteúdo do vídeo, a tia não respondeu. Em seguida, outro integrante comentou que aquele grupo não era pra ser usado para discutir política e iria deixá-lo. "Foi quando eu intervi e disse que a gente não estava falando de política, estava falando de questão moral, de humanidade."

 

Mateus conta que a discussão seguiu então enredando questões morais e de política institucional, até uma prima afirmar querer escolher "um candidato que seja bom para a nossa sociedade, que não queria escolher um candidato simplesmente porque ele vai fazer bem ou mal a pessoas gays, porque acha que isso é insignificante."

 

Para ele, foi o estopim. Mateus se exaltou, respondeu ao comentário pedindo mais empatia e deixou o grupo, mas a confusão o seguiu. "Uma outra prima veio me dizer que essa prima com quem eu discuti tinha saído do grupo se sentindo ofendidíssima com o que eu tinha falado. Aí foi que eu fiquei mais revoltado ainda." Comenta.

 

Para ele, foi como se as pessoas tivessem mostrado um lado que não conhecia. "São preconceitos, racismos, machismos que as pessoas estão revelando. Depois das eleições não acho que vai ter volta, que as pessoas vão se arrepender de terem sido preconceituosas".

 

Apesar de admitir a possibilidade de voltar para o grupo de Whatsapp quando os ânimos acalmarem, Mateus afirma que continuará sem interagir com as responsáveis pelos comentários que o ofenderam, tanto nas redes sociais quanto fora delas. "É muito decepcionante. Hoje eu vejo como irremediável".

Naiana Gomes

 

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