Antes de se chegar ao limite do sofrer, existem caminhos contrários ao fim, de superação, “antes da pessoa fazer a tentativa de suicídio”, ratifica o psiquiatra Fábio Gomes de Matos, coordenador do Programa de Valorização da Vida (Pravida/Universidade Federal do Ceará). Desde 2004, quando foi criado, o Pravida já fez 2.500 atendimentos, ressalta o coordenador: “E nenhuma (pessoa) queria morrer. Queria acabar o sofrimento”. É a morte do sofrimento que se quer, explica o psiquiatra, e “essa é a tragédia” que alerta a todos: família, instituições sociais, poder público.
Cinco doenças mentais se relacionam ao suicídio, liga Fábio Gomes de Matos: depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de Bordeline e dependência de álcool e drogas. Cerca de 97% dos suicídios são provocados por elas; somente uma pequena margem – questões pessoais, como fins de relacionamentos e desemprego – foge a um controle. “Tratando essas doenças, de forma adequada, vão diminuir muito as taxas de suicídio... Seria o primeiro grande passo de prevenção”, acredita.
O psiquiatra Frederico Araújo, diretor técnico do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) concorda: o maior número de casos de suicídio se dá por “um transtorno mental primário, que leva o paciente a ter esse tipo de atitude”. Assim, ele complementa, “é óbvio” que a rede de assistência e o acesso ao tratamento precisam ser fortalecidos. “Na outra ponta, a promoção da saúde, da qualidade de vida”, soma, considerando a melhoria nas condições de habitação e em todo o suporte urbano: cultura, lazer, educação.
A divulgação de informações sobre o suicídio, “não somente em setembro” (período mundial da campanha Setembro Amarelo, de alerta para a prevenção), amplia Frederico Araújo, é ainda fundamental “para que as pessoas saibam que isso é decorrente de um problema de saúde e elas têm onde ter apoio, serem tratadas. E é uma situação contornável”. Existem também os centros de valorização da vida, onde uma conversa pode aliviar a angústia. “Aumentar essa rede de apoio”, considera do psiquiatra do HSM, é mais uma ação eficaz na prevenção.
Ana Mary C. Cavalcante