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Confronto das ideias/ Eleições
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Confronto das ideias/ Eleições

O maior número de mulheres candidatas em 2018, principalmente, em chapas majoritárias pode ser considerado um avanço?
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Tipo Notícia

 

SIM

 

A participação das mulheres na política mobiliza símbolos e expectativas. Vejamos a candidatura de Manuela D'Ávila. Durante a pré-campanha, a candidata viu crescer seu apoio entre mulheres que esperavam ver suas demandas tomando a cena nos debates eleitorais, ao lado dos "grandes temas nacionais". Manuela seria uma porta-voz da elaboração feminista acerca dos problemas do País.

 

Domingo, quando foi apresentada a aliança entre PT e PCdoB, Manuela viu suas redes sociais serem cobertas por comentários que expressavam decepção e indignação por sua suposta submissão ao machismo do sistema político, ao abrir mão da visibilidade de uma candidatura majoritária. Uma premissa do feminismo, a de que as mulheres são sujeitos éticos capazes de decidir sobre suas vidas, não coube para a candidata. Manuela, cuja trajetória política é de 20 anos, não foi percebida em momento algum, por essa parcela de seu eleitorado, como um sujeito do processo político em que estava envolvida. Por que a decisão, tomada por uma política profissional, de se tornar vice numa chapa competitiva é percebida como recuo e não como avanço? Tal reação sugere os dilemas que envolvem a presença das mulheres na política.

 

A disputa política na sociedade midiatizada exige a produção da visibilidade, mas não se reduz a isso. Se, de fato, quisermos que nossas representantes avancem na efetivação de nossas pautas, não podemos reduzir suas ações a uma escolha dicotômica entre representação simbólica ou conquista do poder. Considerando a profissionalização do jogo político, as ações se fazem num movimento pendular.
 

MONALISA SOARES LOPES

monalisaslopes@gmail.com

Cientista Política e professora da UFC

 

NÃO

 

As mulheres têm protagonizado movimentos políticos alavancando pautas predominantemente femininas. Por serem a maior parte do eleitorado indeciso, os partidos políticos precisam se esforçar para conquistar seus votos. Ainda há, entretanto, um cenário de sub-representação.

 

Pelo baixo índice de candidaturas femininas, as leis eleitorais têm buscado incentivar o crescimento da participação nas eleições. Em 2009, foi definido que 30% das candidaturas dos partidos devem ser de mulheres. Nesse ano de 2018, uma nova lei estabeleceu que no mínimo 30% do fundo público partidário deveria ser investido nas campanhas de mulheres. Ficou à critério dos partidos definir como seria utilizado, se em campanhas majoritárias (em cabeça de chapa ou vice) ou em proporcionais (legislativo). Caso o número supere os 30%, o recurso deve obedecer a mesma proporção de candidaturas femininas.

 

Como a lei não define em que candidatura feminina (se majoritária ou proporcional) deve ser investido o recurso, as candidatas a vice já representam 40% e, portanto, o direcionamento do recurso é para as campanhas majoritárias.

 

Apesar do esforço para o crescimento da representatividade feminina, há de se considerar o fato de que o número de candidaturas continua baixo. Os partidos são os espaços para viabilizar representação institucional. O sentido original das leis é perdido quando as legendas adaptam suas estratégias e o cenário de sub-representação se mantém.

 

Paula Vieira 

mpaulavieiracs@gmail.com

Professora da Unichristus e pesquisadora do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC)

 

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