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Empresas e usuários perderam rigor quanto a segurança
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Empresas e usuários perderam rigor quanto a segurança

Pedro Prudêncio, especialista em segurança virtual e sócio da Morphus -Segurança de Informação,
Edição Impressa
Tipo Notícia

O POVO - Como o crime se apropria de serviços digitais como Uber ou 99Pop?


Pedro Prudêncio- As pessoas confiam nesses serviços porque são empresas grandes, que passam essa confiança, e também porque elas representam um modelo de negócios que está virando o padrão em todos os outros setores. Então as pessoas acabam confiando mais por conta do tamanho das empresas, do marketing bem construído e do próprio crescimento súbito de algumas delas no País. No caso de transportes, eu mesmo uso muito. A economia compartilhada veio para ficar, o crescimento desse setor já é uma realidade. E é nessa acomodação que as pessoas têm com essa realidade que a coisa vai afrouxando um pouco no campo da segurança. Tanto para as pessoas, que baixam a guarda, deixam de ter cuidados, quanto pelas empresas. Crescem tanto que perde um pouco o rigor.


O POVO - Em que sentido, exatamente?


Pedro - Antigamente, quando a Uber chegou ao Brasil primeiro, qualquer motorista para se cadastrar era obrigado a ir até a empresa, apresentar documentos, fotos. Tinha todo um processo rigoroso de acompanhamento. Hoje já não existe essa necessidade, com tantos serviços, hoje o cara simplesmente vai e manda dados para o aplicativo, dados que podem ser falsos. Nesse caso [dos estupros em Fortaleza], era exatamente isso. Fazer um cadastro está muito fácil, e mesmo que a empresa faça uma checagem dos dados, hoje é muito fácil também conseguir dados pessoais de qualquer pessoa. Hoje todo mundo coloca a vida toda na internet, até dados pessoais e financeiros. Então fica até fácil para o criminoso criar verbalmente uma história para a pessoa que está do outro lado da tela, é algo que virou banal. O próprio background-checking das empresas está ficando cada vez mais falho, e o grande aumento desse tipo de serviço é algo preocupante, porque vai diluindo tanta gente que cria uma sensação de segurança tanto para o usuário quanto para o bandido.


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O POVO - Como evitar ser vítima desses crimes?


Pedro - Não é questão de dizer que esse tipo de serviço é inseguro e ninguém deveria usar, porque o mundo está caminhando para este lado. Já é uma realidade, não é algo que pode ser desfeito, todo mundo já usa esses serviços. Mas é preciso se cercar de cuidados, não relaxar a guarda, assim como a pessoa não faria na rua, no dia a dia. Uma dica que a gente pode dar é que a maioria desses aplicativos está lançando algum tipo de compartilhamento de localização em tempo real. Isso pode dar uma sensação de segurança, inibir agressões. Tirar uma foto do carro, compartilhar dados do motorista, fazer com que outras pessoas saibam que você está naquele carro, tudo isso é muito importante.

 

Jornalistas contam bastidores da reportagem:

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