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As casinhas que estão aqui
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As casinhas que estão aqui

| CIDADE | Artista visual Julião Jr. registra fachadas de residências e comércios antigos pelas lentes de um celular. Fotos são compartilhadas pelo Instagram
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O caminho de Julião Jr. tem exatos oito quilômetros e setecentos metros. Pelas ruas e avenidas da cidade - cruzando um percurso que nasce no Demócrito Rocha e termina na Aldeota - ele observa as paisagens urbanas. Artista visual com formação superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), ele tem o olhar treinado para perceber símbolos, perspectivas e cores que outras pessoas não conseguem achar em uma primeira olhada. Em uma das viagens, às 7h30min, quando o sol ainda é bom para quem quer sintetizar vitamina D, Julião fotografou uma casa.

 

Não era a residência de um famoso, não era uma casa de arquitetura inovadora, não era uma casa que tivesse acabado de ser construída. Era o lugar onde pessoas já moraram e deixaram histórias. Era junho de 2017 e o artista visual sentiu vontade de captar aquele instante. Desde então, o caminho de Julião é salpicado pelas casinhas. Juntas, elas formam o conjunto arquitetônico de uma cidade esquecida. São, também, um ensaio fotográfico delicado e colorido que Julião compartilha em seu Instagram.

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“As fotos acontecem dentro do meu caminho diário. É um movimento sem pretensão nenhuma. Dentro do possível, mudo o meu percurso e faço adaptações no cotidiano”, explica Julião sobre o processo de captura das imagens. No roteiro entram bairros como Bela Vista, Rodolfo Teófilo, Parquelândia, Benfica, Centro e José Bonifácio. “Procuro sempre as casas mais simples. Suscetíveis a demolições e mudanças”, explica Julião Jr.
O acervo de imagens coloridas está sendo guardado na “melhor resolução possível das lentes de um celular” para, no futuro, ser transformado em livro ou outro produto físico. Até lá, o artista visual segue o processo inadvertido de fotografar as fachadas. As residências e comércios, em geral, mantém tons pastéis na pintura feita com cal. Se repetem também as grades nas portas, as árvores na calçada, as persianas de madeira e os muros baixos.

 

Transitando entre os diferentes bairros, Julião Jr. diz perceber as variações no estilo das residências. O crescimento de Fortaleza e a economia, ele acredita, interferem na paisagem urbana de diferentes modos. Há casas que se transformam em pequenos comércios, também captados pelas lentes do celular do artista visual. Mais orgânicas e menos conservadas, as unidades ficam geralmente nas esquinas - talvez por estratégia. “Quem está na necessidade vai e constrói um comércio. Cobre a fachada linda e colorida sem pensar no passado. Isso não é culpa do dono do imóvel, muitos não podem parar para cuidar. As pessoas precisam se sustentar”, pontua.

 

“Muitas pessoas já me agradeceram por estar compartilhando essas fotografias. Isso vem muito da memória afetiva da cidade”, explica o artista visual, lembrando que a maioria dos imóveis não têm uma idade de construção tão antiga. “São, muitas vezes, casas das décadas de 1970 e 1980. Não são tão velhas, mas têm um estilo que as pessoas da minha idade sentem saudade. Deve trazer à tona lembranças. Esse é o meu sentimento”, explica Julião, 40 anos, ao falar sobre as razões para as imagens estarem fazendo tanto sucesso nas redes sociais.

 

 

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