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Sentimentos postos à mesa
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Sentimentos postos à mesa

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Tipo Notícia

 

Rosiane Araújo, 36 anos, solteira e mãe de dois filhos (de 9 e de 14 anos) é parte de uma casa - onde moram também irmãs, cunhados e sobrinhos - sustentada pelo ofício culinário. A família tinha uma lanchonete, ela restaura, mas fechou pela falta de segurança e porque as pessoas preferiam comer fora do bairro. A inauguração da Escola de Gastronomia Autossustentável, há pouco mais de um ano e meio, tem convidado os moradores a aproveitar o Bom Jardim, considera Rosiane. É, sim, possível.

 

Rosiane mora no Bom Jardim desde os 9 anos de idade, quando os pais voltaram de São Paulo para o Ceará, escapando da violência na favela onde residiam. Projetos sociais locais também apontam um caminho de volta, ela diz: “(O Bom Jardim) não é como a gente imagina ser, de tanta violência. Nosso bairro está adquirindo projetos que podem ter mais qualificação das crianças”. Os filhos e os sobrinhos de Rosiane participam dessas ações, valoriza: “Todos os projetos que nosso bairro oferece faz, realmente, com que as crianças se afastem desse mundo de maldade... Por isso que eu digo que aqui não persiste o mal, aqui prevalece o bem”.

 

Ela também obteve recomeços a partir da Escola de Gastronomia. Concluindo o quinto curso no local, já trabalha como merendeira do projeto Sim à Vida (do Movimento de Saúde Mental Comunitária). Responsabilidade e sabedoria, ressalta, são o principal ganho. “Esses recursos que a gente não aprendeu em casa, popularmente, aprende nesses cursos. E aprimorando, ainda mais, o prazer de fazer um prato bonito pras pessoas comerem com os olhos”, sorri ao contar a vida que vive.

 

Para a merendeira, o conteúdo das aulas de gastronomia aguça sentidos e pensamentos: “A gente se torna muito melhor. Tem o prazer de fazer aquilo com amor, de saber que as pessoas vai provar daquele seu produto e ter a vontade de voltar, de saber que ali tem uma comida prazerosa, com muito amor, carinho, dedicação”.

 

Sentimentos que são, agora mais do que antes, postos à mesa e, assim, aproximam uns aos outros. “Chego em casa, meus filhos, meus sobrinhos dizem: tia, faz aquilo que a senhora aprendeu lá no curso, eu adoro sua pizza e tal, eu quero bolinho de chuva, quero uma comida diferente...”, saboreia Rosiane. “A gastronomia me deu uma realização de ser mais amorosa e ter mais prazer de estar com a família. Quando você coloca a comida na mesa, e todos se sentam juntos para comer, é sensacional!”, significa.

Ana Mary C. Cavalcante

 

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