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Editorial. Ataque contra agências de checagem é inaceitável
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Editorial. Ataque contra agências de checagem é inaceitável

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Tipo Notícia

 

Jornalistas e colaboradores de agências de checagens de notícias foram alvo de uma onda de ataques nos últimos dias. As investidas seguiram-se ao anúncio de uma parceria entre o Facebook e as agências Lupa e Aos fatos, que passarão a verificar a veracidade de publicações na rede social, fornecendo em seguida reportagem que ateste ou repare as informações que forem denunciadas.

 

A parceria não envolve a exclusão de conteúdo visto como suspeito, mas a perda de seu alcance orgânico na plataforma e eventualmente o veto a uso de anúncios para criar receita. As páginas que reiteradamente incorrerem nessa prática terão a sua abrangência reduzida.

 

De acordo com o Facebook, os “critérios de checagem das agências são públicos e atendem aos requisitos da International Fact Checking Network (IFCN) – um dos quais é o apartidarismo. A IFCN é parte do Poynter Institute, um dos mais renomados centros de formação e aprimoramento do jornalismo”.

 

O projeto, que tem por objetivo atenuar os estragos causados pelas notícias falsas à democracia, rapidamente despertou a fúria de facções virtuais, as mesmas que têm se alimentado de factoides no Brasil, notadamente em ambiente político tão polarizado quanto o de agora.

Pelo Twitter e WhatsApp, grupos que difundem fake news atacaram perfis pessoais de membros dessas agências, expondo conteúdo privado de seus colaboradores, como imagens de cônjuges e filhos, e despejando ofensas nos feeds. Sob qualquer ponto de vista, trata-se de uma ação condenável, orquestrada com a finalidade de fazer recuar uma tentativa importante de recuperação da saúde da arena pública, esgarçada desde que fenômenos dessa natureza ganharam uma dimensão inesperada nas redes sociais, notadamente no próprio Facebook, a ponto de influenciarem no resultado de eleições. Caso dos Estados Unidos, onde o presidente eleito, Donald Trump, fez largo uso de mentiras disseminadas via rede social.

Em reação aos ataques, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota na última quarta-feira na qual condena as ações. “Para a Abraji, a crítica ao trabalho da imprensa é válida e necessária”, anotou a entidade. “Ao incitar, endossar ou praticar discurso de ódio contra jornalistas, porém, aqueles que reprovam as iniciativas de checagem promovem exatamente o que dizem combater: o impedimento à livre circulação de informações.”

 

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