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Dois dedos de prosa com Diego Hypolito
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Dois dedos de prosa com Diego Hypolito

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Prata na Rio-2016, o medalhista olímpico brasileiro expôs no fim de abril o maior drama da sua vida. Um dos mais respeitados ginastas do País, Diego Hypolito revelou que sofria bullying de cunho sexual no início da carreira, quando treinava no Flamengo, no Rio de Janeiro, praticado por atletas mais velhos com a conivência do técnico. A revelação ocorre ao mesmo tempo que vem à tona a denúncia de abuso sexual de mais de 40 ginastas contra o técnico Fernando de Carvalho Lopes, que treinou Hypolito para a Olimpíada no Brasil. Em entrevista por telefone, o paulista de 31 anos comentou sobre o bullying no esporte, o apoio recebido após a revelação, o caso envolvendo Fernando de Carvalho Lopes e o momento turbulento da ginástica artística brasileira.


O POVO: como foi esse período após fazer as revelações?

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Diego Hypolito: Foi bastante libertador porque era algo que eu guardava comigo. Foi impulsionada (a vontade de revelar), lógico, pelas notícias dos abusos. Isso me motivou a ter coragem de falar.

Me consumia muito, é uma lembrança muito desagradável que caminhava comigo. A galera está sendo muito gentil comigo. Isso me conforta muito.


O POVO: Como você conseguiu aguentar todo esse tempo sem relevar para ninguém?


Diego Hypolito: Na realidade, a lembrança já não era tão viva. Quem me lembrou foi a Jade (Barbosa, ginasta brasileira) na Disney. Ela me lembrou disso. E cada vez estava mais recorrente na minha cabeça.

Tinham muitas pessoas da época que sabiam que acontecia.


O POVO: Como foi revelar para a sua mãe?


Diego Hypolito: Ela ficou bastante chocada, não conseguia nem raciocinar. Na realidade, eu contei pra ela no mesmo dia que saiu a matéria no Jornal Nacional (Rede Globo).


O POVO: Por que você preferiu não revelar os nomes das pessoas que fizeram isso com você?


Diego Hypolito: Não é questão de não revelar. Não é uma escolha. Eu não consegui falar sobre o assunto.


O POVO: As denúncias contra o Fernando podem afetar de alguma maneira o futuro da ginástica?


Diego Hypolito: Acho que a intenção (das denúncias) é pela mudança. Acredito que não vai afetar.


O POVO: Como era a sua relação com o Fernando? Fez algum contato com ele após as denúncias?


Diego Hypolito: Nós tínhamos um relacionamento profissional. Ele era o meu treinador. A gente tem respeito quando está treinando, mas jamais imaginava que isso (as denúncias) poderia ser real. Um pouco antes das Olimpíadas (2016) foi que tive noção. Nunca mais falei com ele depois dos Jogos.


O POVO: A Georgette Vidor (uma das mais importantes técnicas de ginástica no Brasil) questionou, diante do contexto, que pai deixaria o filho ser ginasta ‘com esses casos de pedofilia’. Se você tivesse um filho, o incentivaria e o colaria numa escolinha da modalidade ou teria receio?


Diego Hypolito: Eu colocaria. Acho que não pode colocar todo mundo dentro do mesmo saco, como se todos fizessem a mesma coisa. É um caso que precisa de justiça, mas isso acontece em muitos setores. É preciso tomar as medidas cabíveis para que exista punição e os ginastas e os familiares que passaram por isso tenham o mínimo de justiça.

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